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Chuvas no Rio Grande do Sul devastam o Estado, provocando mortes e o deslocamento de populações
Pedro Luiz Côrtes, da USP, aponta três motivos para a tragédia: frentes frias, umidade oceânica e uma barreira de alta pressão. Governo federal suspende restrições legais para a reconstrução
Quase um milhão de imóveis ficaram sem água potável e seis barragens em várias regiões do Estado estão em situação de emergência - Foto: Ricardo Stuckert/PR/Agência Brasil
São 336 municípios do Rio Grande do Sul em estado de calamidade, provocando uma tragédia que já somava 83 mortos, 105 desaparecidos e 175 feridos, até esta segunda-feira, 6/5. Em dez dias choveu no Rio Grande do Sul cerca de um quarto do esperado para um ano – entre 24 de abril e 4 de maio foram 420 mm de chuva, enquanto a média do Estado fica em torno de 1.500 anuais.
Quase um milhão de imóveis ficaram sem água e seis barragens, em várias regiões do Estado, estão em situação de emergência. A maior parte dos moradores das cidades atingidas, inclusive a capital Porto Alegre, teve que sair de suas casas, abrigando-se em locais públicos, casas de famílias e de amigos. Equipes de resgate, com aviões e helicópteros, voavam continuamente por várias regiões do Estado resgatando moradores isolados pelas águas. Drones eram utilizados para identificar locais e famílias que necessitam de socorro.
“Precisamos de um Plano Marshall* para recuperar o Estado”, declarou o governador do RS, Eduardo Leite. A situação ficou tão grave que motivou duas visitas ao Estado do presidente Luís Inácio Lula da Silva, a segunda das quais acompanhado por uma ampla comitiva de ministros e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, o vice-presidente do STF, Edson Fachin, e representantes das Forças Armadas.
Pedro Luiz Côrtes - Foto: Lattes
IMPACTOS
“É um desastre que se colocaria, sem exagero, no rol de um grande terremoto”, disse ao Jornal da USP o professor Pedro Luiz Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo. “As enchentes afetam o Estado de formas tão abrangentes e intensas que é possível fazer essa comparação”, acrescenta.
Em dez dias choveu no Rio Grande do Sul cerca de um quarto do esperado para um ano - Foto: Ricardo Stuckert/PR/Agência Brasil
USP lança a campanha “Vamos Ajudar as Vítimas das Enchentes no RS”
Campanha conta com a parceria da Unesp, Unicamp, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFMUSP) e Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp)
“A necessidade de reconstrução é praticamente total, porque todos os principais recursos de que o Estado e a população podem dispor foram comprometidos no seu todo ou em grande parte”, aponta Côrtes. A começar pela infraestrutura do transporte. Na sua visão, além da dificuldade de locomoção, evacuação dos locais e resgate de vítimas, a segurança alimentar e energética são dificuldades consequentes. Sem meios de levar comida e energia, a fome, a distribuição de combustível e a impossibilidade de recuperar a rede elétrica se tornam problemas também.
Para Côrtes, a saúde é mais um ponto preocupante de atenção. “Mesmo as cidades que não tiveram o fornecimento de água comprometido, mas que sofreram com alagamentos, podem ter contaminação das redes de distribuição de água. Infelizmente, isso pode ampliar as doenças de veiculação hídrica, como é o caso da hepatite e da leptospirose, por exemplo”. Não havia enchentes da grandeza da ocorrida na semana passada no Rio Grande do Sul desde 1941, que na época registrou picos de 4,76 metros. A da semana passada atingiu 5,31 metros.
Lago Guaíba, em Porto Alegre, atingiu nível histórico e água invadiu orla - Foto: Alex Rocha/PMPA/Agência Brasil
Grupamento de Fuzileiros Navais do Rio Grande resgatou mais de 40 pessoas na região de Eldorado do Sul (RS) - Foto: Marinha do Brasil/Divulgação/Agência Brasil
No domingo, 5 de maio, número de pessoas resgatadas no Rio Grande do Sul chegou a 20 mil - Foto: Marinha do Brasil/Divulgação/Agência Brasil
Em dez dias choveu no Rio Grande do Sul cerca de um quarto do esperado para um ano - Foto: Ricardo Stuckert/PR/Agência Brasil
O número de desabrigados e desalojados nas cidades atingidas não para de crescer - Foto: Ricardo Stuckert/PR/Agência Brasil
Causas
Apesar do El Niño ter sido, por vezes, apontado como a causa das enchentes, Côrtes tem outra opinião. Para ele, houve uma junção de três fatores: frentes frias, umidade oceânica e uma barreira de alta pressão. “Nós temos uma forte zona de alta pressão na região central do Brasil que impede que as frentes frias prossigam em direção ao norte”, apontou. Essa zona, segundo o professor, “fez com que a umidade do Oceano Atlântico se desviasse: uma parte entrando pelo leste do Rio Grande do Sul e outra dando uma volta pela Amazônia e descendo pelo interior do País, chegando pelo oeste”. Na prática, o Estado sofreu com uma frente fria vinda do sul e ondas de umidade vindas do leste e oeste; já ao norte, uma barreira fez com que tudo se condensasse ali.
Cheia do Lago Guaíba muda cenário da capital Porto Alegre - Foto: Ricardo Stuckert/PR/Agência Brasil
As áreas do Estado mais afetadas, segundo o jornal Valor Econômico, são os vales dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos, Gravataí e Guaíba, este em Porto Alegre. Rio Grande e Pelotas também estão sob alerta.
O presidente Lula, os ministros do governo e as demais autoridades quer se deslocaram até o Rio Grande do Sul, neste fim de semana, se comprometeram com a criação de um arcabouço jurídico especial que facilite o envio e a utilização de recursos federais para financiar as medidas para a resolução dos problemas criados pelas enchentes. Um decreto nesse sentido foi enviado ao Congresso, na tarde desta segunda-feira, 6/5, pelo presidente Lula com o apoio dos presidentes da Câmara e do Senado.
*Plano Marshall: programa através do qual o governo norte-americano patrocinou a recuperação da Europa Ocidental, depois da Segunda Guerra Mundial.
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