Recentemente, o governo federal declarou a situação crítica de escassez quantitativa de recursos hídricos na região hidrográfica do Paraguai. Em publicação no Diário Oficial da União, informou que o cenário observado na região é de escassez hídrica relevante em comparação com períodos anteriores. Segundo o governo, essa declaração permite que prestadoras de serviço de saneamento adotem mecanismos tarifários de contingência para cobrir custos adicionais. Isso acarretaria um aumento de tarifa em algum momento. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alertou para uma estiagem severa na Amazônia e no Pantanal. O professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Pedro Luiz Côrtes, comenta que poderemos ter crises hídricas e elétricas em um futuro próximo.
Explicação ambiental
A questão das secas tem relação direta com os eventos no Rio Grande do Sul. Enquanto chove excessivamente lá, falta chuva em outros lugares. A razão foi uma cúpula de alta pressão entre o Sudeste e o RS, o que, segundo Côrtes, “bloqueava a progressão das frentes frias que chegavam no sul do continente e elas ficavam barradas no Rio Grande do Sul”. O fenômeno também permitiu a entrada de umidade marítima, que tem sido desviada para o norte da Amazônia.
A seca no Sudeste e Centro-Oeste é comum nos períodos de inverno, mas isso tem sido muito intensificado este ano por conta do aquecimento do Oceano Atlântico, o fenômeno do El Niño. O professor afirma que “nós temos uma situação que tem sido potencializada pelas mudanças climáticas”. Explicando melhor o fenômeno, ele acrescenta: “O El Niño é marcado pela redução dos ventos alísios na região equatorial, que vão de leste para o oeste, então eles acabam levando uma quantidade menor de umidade para Amazônia”. Essa seria a razão pela qual a gente teve uma seca intensa na Amazônia no ano passado.
Preocupação com o futuro
Enquanto o período de seca e impactos do El Niño já eram previstos, “alguns reservatórios de hidrelétricas vêm recebendo uma quantidade menor de água do que seria esperado para o período, mesmo diante de um El Niño”, diz Côrtes. A situação preocupa o cenário hídrico do Brasil.
A maioria dos reservatórios está acima de 70%, mas ainda assim os especialistas se preocupam. A questão é a reposição; se houver apenas gasto de água sem que as chuvas mantenham o nível estável, o cenário pode logo se tornar crítico. O professor comenta as consequências: “Pode chegar um momento em que nós não tenhamos tantas condições de gerar energia por meio hidrelétrico e teremos que usar, infelizmente, mais termelétricas”. Estas, que além de poluir e gerar gases de efeito estufa, são a energia mais cara no Brasil. A conclusão é poluição e uma tarifa de energia mais elevada.
Côrtes comenta a última vez que a Cantareira trouxe preocupações. “[O nível das águas] chegou pouco acima de 20% e hoje ele está alto por conta da chuvas de verão, mas essas chuvas têm se reduzido de maneira significativa e isso acende um alerta para o futuro”. A previsão é que, sem uma reposição pluvial suficiente, “para o final do ano que vem a gente esteja com a Cantareira rodando em torno de 35% mais ou menos [da capacidade]”.
Em suma, Pedro Luiz Côrtes relaciona os eventos recentes desastrosos e sintetiza as previsões climáticas: “O que já vimos no Rio Grande do Sul em termos de volume de água, agora veremos o inverso no Pantanal, em forma de seca”.
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