Ausência de oposição preserva Bolsonaro e compromete cidadania

Na opinião de Pedro Dallari, a falta de oposição política efetiva a Bolsonaro tem preservado seu governo e comprometido os direitos de cidadania da população brasileira

 14/10/2020 - Publicado há 4 anos
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Esta semana, a coluna do professor Pedro Dallari tem como alvo a inércia da oposição brasileira frente à política conduzida pelo presidente Jair Bolsonaro, num momento em que a pandemia de covid-19 no País já causou mais de 150 mil mortes e em que o descaso com o meio ambiente chegou a um ponto muito alto. “As queimadas ocorrem de forma assustadora e os incêndios que atingiram o Pantanal representam um desastre sem precedentes.” Para Dallari, o impacto econômico e social desse quadro é terrível e haverá sequelas muito graves. “Por ação e por omissão, Bolsonaro tem atuado decisivamente para inviabilizar uma política eficaz de combate à propagação do novo coronavírus e da covid-19”, da mesma forma em que ele se mostra um feroz opositor de medidas preservacionistas, “atuando para impedir os órgãos públicos de exercerem o monitoramento e a fiscalização ambiental”, o que tem contribuído para isolar o Brasil, cada vez mais, no plano internacional.

Apesar desse quadro caótico, Dallari observa que a popularidade de Bolsonaro se mantém elevada e ele se mostra com possibilidades até de vencer as próximas eleições para presidente da República. “O que explica isso?”, indaga o colunista. A explicação é a falta de oposição política efetiva a Bolsonaro, fator que tem preservado seu governo e comprometido os direitos de cidadania da população brasileira. A oposição existe, mas é pontual, partindo de organizações da sociedade, da imprensa, do Ministério Público e até mesmo do Judiciário, e não de quem deveria caber essa responsabilidade, que é dos partidos e do Congresso Nacional. “É indicador dessa paralisia o fato de que, até agora, não houve sequer a instauração de um processo de impeachment contra Bolsonaro”, embora haja requerimentos para a instauração desse processo, os quais, no entanto, parecem não ser para valer.

A seguir, o colunista explica as razões por trás dessa apatia oposicionista. “Uma delas é o alinhamento tácito dos principais partidos políticos com o interesse de Bolsonaro de enfraquecer o sistema de justiça, pois “a preocupação do presidente da República com os processos judiciais que afetam a sua família é a mesma de parte das lideranças dos principais partidos, às voltas com processos decorrentes da prática da corrupção”. Para Dallari, essa sintonia gera uma aliança que, do ponto de vista político e ideológico, seria impensável. Conclui Dallari: “A paralisia das forças políticas brasileiras não se justifica sob qualquer hipótese. O dano que a permanência de Bolsonaro gera para a cidadania é imensa. A corrosão dos direitos individuais e sociais, a degradação ambiental, a acentuação da pobreza, tudo isso fará com que a população brasileira sofra as consequências do desmando atual. Na semana em que o Brasil alcança 150 mil mortes por covid-19, essa situação de horror é dramática”.


Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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