A oportunidade que se perdeu em não se comemorar os eventos de 60 anos atrás

Ao evitar comemorações referentes ao golpe que deu origem à ditadura militar, tanto de um lado quanto do outro, Álvaro Moisés entende que se perdeu a oportunidade de os militares avaliarem o seu papel ao longo da história do País

 20/03/2024 - Publicado há 8 meses

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O governo federal decidiu não fazer nenhum evento sobre o que ocorreu no País 60 anos atrás, o golpe de Estado que deu origem à ditadura por mais de 20 anos. Ou seja, não deveriam haver celebrações – como tem acontecido nas últimas décadas -, por parte das Forças Armadas, das supostas virtudes do regime instaurado em 1964. Por sua vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também decidiu que tampouco haveria celebrações sobre a resistência democrática da qual ele próprio participou e que derrotou o autoritarismo e permitiu o retorno da democracia ao País. A decisão teve como justificativa o argumento de que o presidente da República busca estabelecer melhores relações com os militares e o conjunto das Forças Armadas.

Ao comentar esse cenário, o professor e cientista político José Álvaro Moisés diz o seguinte: “O problema dessa justificativa é que ela ocorre em um momento da vida do País que justamente reabre o debate sobre a intervenção dos militares na política e especialmente sobre a participação deles em atos ou tentativas de dar golpes de Estado contra civis que, a exemplo de 1964, tenham sido eleitos pelo povo para governar; essas tentativas são frequentemente justificadas em termos de suposta maior capacidade dos militares para resolver os problemas do País”, argumenta o colunista, para acrescentar, logo após, que, “nos últimos dias, a questão tornou-se dramática, estratégica mesmo, em face da revelação dos passos dados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para dar um golpe de Estado que pudesse impedir o candidato eleito em 2022 para dirigir o País”.

Mais adiante, ele prossegue: “Falar de 64 e, ao mesmo tempo, refletir comparativamente sobre 2022 e janeiro de 2023 poderia abrir uma excelente oportunidade para os militares avaliarem o seu papel ao longo da história e os civis aprenderem, inclusive, que existe um espaço para a contribuição que eles podem e devem dar para a definição de políticas de segurança nacional; essa oportunidade abriria novas perspectivas para o desenvolvimento das qualidades da democracia no Brasil”.


Qualidade da Democracia
A coluna A Qualidade da Democracia, com o professor José Álvaro Moisés, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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