A videoinstalação Odiolândia, de Giselle Beiguelman, está de volta, desta vez no Memorial da Resistência, no prédio onde antes funcionava o antigo Deops da época da ditadura. E, de acordo com a autora, não há exatamente muito o que comemorar, “porque a sua volta se justifica pela consolidação das formas como o discurso e as políticas e as práticas do ódio se tornaram recorrentes entre nós”.
Odiolândia é de 2017 e apresenta exclusivamente textos sobre comentários publicados em redes sociais sobre as ações da Prefeitura de São Paulo e do Governo do Estado na região da Cracolândia. “Os textos são combinados a trechos de áudios extraídos de vídeos postados também na internet por participantes e apoiadores das ações realizadas entre 21 de maio e 9 de junho de 2017 […] o que é muito impressionante é que os comentários são majoritariamente favoráveis ao tratamento policial e ao uso da força e de armas de fogo contra os dependentes químicos, e os comentários expressam também o desejo de ver as mesmas políticas de violência estendidas a outros grupos, como nordestinos, moradores em situação de rua, pessoas LGBTQ+.”
Os comentários, diz Giselle, são apresentados na forma bruta e despidos das imagens, “criando aí um choque de realidade sobre o que é essa cultura do ódio, apresentada agora no museu onde funcionou por mais de quatro décadas o Deops de São Paulo, uma das políticas mais truculentas da ditadura civil/militar. Odiolândia nos provoca a refletir sobre como a cultura do ódio e da intolerância, tão marcante nos períodos ditatoriais, se reconfigura e ainda permeia o tecido social brasileiro”.
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
.