A relação entre idade e criatividade é o tema da coluna do físico Paulo Nussenzveig. “Em 19 de agosto de 2017, Alison Gopnik e Tom Griffiths publicaram um artigo de opinião no The New York Times, com um relato de experimentos que fizeram para investigar a relação entre criatividade e idade. Eles começam com uma deliciosa história que reproduzo aqui”, relata. “Um menino de 4 anos, da família de Gopnik, ouviu o avô dizer ‘Como eu gostaria de ser um garoto novamente!’ Após uma breve reflexão, o menino sugeriu: ‘Vovô, você deveria experimentar parar de comer legumes e verduras’. A lógica é impagável. Se, ao comerem legumes e verduras, crianças se tornam adultos grandes e fortes, deixar de comê-los deveria produzir o efeito contrário!”
De acordo com Nussenzveig, em seus estudos publicados na revista PNAS, da Academia de Ciências dos EUA, em 25 de julho de 2017, Gopnik, Griffiths e colaboradores estudam diferentes exemplos de pensamento inusitado, ou flexibilidade cognitiva, entre faixas etárias distintas. “A análise busca compreender as vantagens evolutivas de termos um período tão prolongado de infância e adolescência na nossa espécie, quando dependemos muito dos adultos para nossa sobrevivência. Eles discutem também dois tipos de atitude que desenvolvemos para a solução de problemas: explorar ou tirar partido”, conta. “No primeiro caso, busca-se algo realmente novo, ‘pensar fora da caixa’, explorando todas as evidências sem preconceitos, o que pode conduzir a ideias inusitadas; no segundo caso, tiramos partido do conhecimento que já detemos sobre o mundo à nossa volta, aplicando ideias conhecidas a novos problemas. Adultos têm maior tendência a seguir essa alternativa.”
Uma distinção parecida, estudada por Bruce Weinberg e David Galenson, foi descrita em 28 de abril de 2019, por Ephrat Livni, em Quartz, observa o professor. “Eles classificam dois tipos de criatividade, cuja idade típica de apogeu é diferente: inovadores conceituais ou pensadores radicais (apogeu aos 20 e poucos anos) têm suas melhores ideias antes de se verem profundamente imersos nas convenções de suas áreas de atuação”, descreve, “já os inovadores experimentais (apogeu com 50 e poucos anos) levam décadas de tentativas e erros, acumulando conhecimentos que permitem estabelecer conexões inusitadas”.
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Ciência e Cientistas
A coluna Ciência e Cientistas, com o professor Paulo Nussenzveig, no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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