USP Analisa #77: Ciência foi deixada de lado na COP26, diz especialista

Segundo entrevistado do USP Analisa, países deixaram recomendações científicas de lado em função de interesses geopolíticos

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 10/12/2021 - Publicado há 3 anos
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Realizada em novembro na Escócia, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP26 reuniu representantes de 196 países. Na pauta, temas como desmatamento, efeito estufa, neutralidade de carbono e o futuro do clima do planeta. Para traçar um panorama sobre os compromissos assumidos no encontro e discutir também a política ambiental brasileira, o USP Analisa desta semana conversa com o professor do Instituto de Física da USP e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, Paulo Artaxo. 

Ele destaca que, mais uma vez, a ciência foi deixada de lado em relação aos interesses geopolíticos dos países participantes. “Os resultados da COP26, que estão expressos no chamado Pacto Climático de Glasgow, no documento final da reunião, deixam muito a desejar do ponto de vista das recomendações da ciência e do IPCC. Infelizmente, se todos os países cumprirem os seus compromissos até o momento, o nosso planeta ainda vai se aquecer em torno de 2,7°C, em média. Isso leva para regiões como o interior do Brasil um aquecimento da ordem de 3,5 a 4°C, o que é muita coisa”, explica ele.

Apesar disso, Artaxo afirma que duas decisões foram muito importantes nesse encontro: os compromissos de reduzir em 30% as emissões de metano, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, e de zerar o desmatamento das florestas tropicais até 2030. Para ele, o Brasil tem plenas condições de cumprir essa última meta.   

“O Brasil já reduziu rapidamente o desmatamento de florestas tropicais de 2003 até 2011, então isso é possível. A ciência já sabe como fazer isso e nós temos a legislação para fazer isso. O que nós precisamos é de um governo que realmente cumpra os seus compromissos com a sociedade brasileira e o compromisso do Acordo de Paris. É possível tecnicamente, politicamente e cientificamente zerar o desmatamento com enormes benefícios para o agronegócio, que vai ver a restauração dos serviços ecossistêmicos, em particular a chuva, que irriga as áreas de pastagem e as áreas onde nós temos, por exemplo, plantações de soja, o que vai aumentar produtividade agrícola brasileira e preservar a biodiversidade, fator riquíssimo para a sociedade brasileira com potencial enorme de ser explorado”, diz Artaxo.

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USP Analisa
O USP Analisa Vai ao ar pela Rádio USP quinzenalmente às sextas-feiras, às 16h:45, e também está disponível nos principais agregadores de podcast. O programa é uma produção conjunta da Rádio USP Ribeirão Preto (107,9 MHz) e do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP. Apresentação e edição: Thaís Cardoso. Produção: João Henrique Rafael Junior. 

 

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