José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela FFLCH da USP e pesquisador do IEA, aponta que o maior problema do Brasil é a desigualdade social, causando prejuízos em diversas áreas. Nesse sentido, Portella identifica uma falha nos programas dos candidatos às eleições municipais de 2024: a falta de foco em políticas públicas que combatam essas desigualdades.
“Os prefeitos são as autoridades que vão agir de forma mais direta nessas questões. A ideia é que ninguém mora na União ou no Estado, as pessoas moram nos municípios. Então esses candidatos deveriam enxergar a desigualdade e seus desdobramentos como a prioridade máxima de seus projetos; mas não é o que estamos vendo”, elucida.
O professor afirma que os programas do governo municipal deveriam focar em questões estruturais, como o saneamento básico. No entanto, os programas mais comuns são os chamados programas compensatórios. “A tarifa zero no ônibus é um exemplo disso. Muita gente vai andar de ônibus de graça, mas podendo pagar. Isso tem um custo para a população geral. É muito melhor você direcionar aquele dinheiro, que subsidia a passagem de muita gente que não precisa, para dar suporte às pessoas de maior carência. É preciso colocar o recurso diretamente em uma transferência de renda para quem precisa. Assim ela terá uma renda mínima para participar da economia também. É muito mais fácil e mais barato”, esclarece.
Para ele, a melhor maneira de combater esse desequilíbrio é acabar com uma parte das políticas compensatórias e focar em políticas de transferência de renda, que possibilitem às pessoas participar da economia trabalhando e gerando renda. No período da pandemia, por exemplo, o auxílio emergencial foi criticado e acreditava-se que o PIB brasileiro teria uma piora significativa, o que não aconteceu. “Tivemos uma queda no primeiro ano da política, mas no ano seguinte tivemos uma recuperação significativa por conta do auxílio emergencial, mostrando os resultados de se colocar dinheiro nas mãos dos mais pobres.”
Segundo José Luiz Portella, o uso recorrente dessas políticas compensatórias interfere na economia, pois utiliza do orçamento que poderia ser destinado à qualificação profissional de pessoas em situação de carência. O professor ainda acrescenta que, no curto prazo, o investimento na especialização retornaria.
“Não adianta você colocar um centro de estudo na periferia e esperar que isso vai resolver. É preciso criar um conjunto, um envoltório de ações que faça com que aquele centro acabe formando pessoas da periferia que encontrem emprego imediatamente, por exemplo, na zona leste, para que a riqueza gerada seja retida e permaneça no local, que hoje é pobre. Com essa riqueza gerada é possível fazer a economia local girar e diminuir a desigualdade”, conclui.
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