Sociedade em Foco #141: A discussão sobre juros altos vai além da inflação

José Luiz Portella explica os impactos econômicos da manutenção da taxa Selic nas políticas públicas

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 28/03/2023 - Publicado há 1 ano
Momento Sociedade - USP
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Sociedade em Foco #141: A discussão sobre juros altos vai além da inflação
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Após dois dias de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do Banco Central, a taxa Selic foi mantida em 13,75%. A decisão da manutenção dos juros altos recebeu críticas por parte de economistas, que indicaram potencial dano nas políticas públicas. “O objetivo é diminuir a inflação”, afirma José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Portella comenta que a meta é diminuir a inflação de oferta ou a de demanda: “A inflação de oferta, em maioria agora, gera também uma inflação de demanda na sequência”. Ele exemplifica a questão com o caso da crise dos semicondutores, cuja cadeia de suprimentos escassa impactou diretamente na produção de automóveis. “Subiu o preço do carro porque houve também uma inflação de demanda,” explica ele, que complementa, “ou seja, com menos carro para vender, o preço subiu”. 

“Juro alto é contracionista, é feito para diminuir a atividade econômica, o que significa provocar uma recessão [econômica]”, diz Portella. O Copom aponta que a finalidade da taxa de juros altos é de diminuir a inflação. O discurso de que a alta inflação prejudica os pobres é verdadeiro, segundo ele. No entanto, “a perda de empregos e, portanto, de todo o poder aquisitivo, tende a ocorrer com a recessão”, relata.

O debate econômico em torno das políticas públicas deve rejeitar batalhas ideológicas de ambos os lados, “tanto do lado que defende uma política de aumento de inflação quanto do lado que quer baixá-la de qualquer jeito”, opina Portella. Ele menciona o arcabouço fiscal, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, a Lei do Orçamento Anual e a reforma tributária como quatro eventos oportunos para o remanejamento de gastos ligados a políticas públicas. “Dá para cortar gastos inúteis ou aqueles que privilegiam setores mais ricos, e não retirar de programas sociais”, indica.

Para Portella, o ano de 2023 precisa ser um ano de moderação nos gastos públicos, de modo que, em 2024, seja iniciado um processo de recuperação para 2025 e 2026. “O problema é muito mais profundo do que a discussão do juro alto”, conclui ele. Apesar de prejudicar as políticas públicas, é possível combater a inflação com investimentos na área pública.


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