Sociedade em Foco #124: Se há um perdedor nestas eleições, são as políticas públicas, afirma professor

De acordo com o professor José Luiz Portella, as discussões voltadas para o poder e o passado dos candidatos afetaram uma apresentação clara das políticas públicas que serão implementadas nos próximos quatro anos

 04/10/2022 - Publicado há 2 anos
Momento Sociedade - USP
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Sociedade em Foco #124: Se há um perdedor nestas eleições, são as políticas públicas, afirma professor
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Em meio a discussões presidenciais marcadas pela polarização e um segundo turno acirrado, os debates esqueceram de uma coisa: falar sobre políticas públicas. Como afirma José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados, se houve um perdedor nessas eleições, foi o esclarecimento acerca das políticas públicas. 

De um lado, o atual presidente tende ora a medidas liberais, ora a intervenções estatais. Do outro, o ex-presidente conduz políticas públicas de forma genérica, mesmo que tenham um viés de esquerda. O ponto levantado pelo professor é: de maneira geral, não há uma discussão sobre o orçamento como um todo, ou seja, de onde efetivamente sairão as verbas para cada projeto. 

Ressalta ainda que o ano de 2023 já vai começar de forma complicada, porque, além de um orçamento totalmente arrebentado, com parte do dinheiro remanejado para outras pastas ou falta de verbas, não há efetivamente um planejamento de treinamento específico para a implementação das políticas públicas. Quem entrar, terá que remanejar os recursos e achar no orçamento de onde retirar o dinheiro. 

Neste segundo turno, que ocorre no dia 30 deste mês, os candidatos terão que buscar os votos daqueles que se abstiveram, votaram nulo ou branco, ou que escolheram outros candidatos, como Ciro Gomes ou Simone Tebet, que, dentre os que não foram para o segundo turno, tiveram maior expressão. 

“Tirar o eleitorado um do outro ou buscar o eleitorado nos nossos candidatos que não foram para o segundo turno. Esses votos são misturados, não são claros. Nem todo eleitor do Ciro é uma pessoa de esquerda”, diz Portella. “No Brasil tem uma confusão porque, às vezes, a pessoa defende certas políticas mais sociais ao mesmo tempo que é conservador em outros costumes”, analisa. 

“Nós tivemos uma derrota do esclarecimento das políticas públicas, que tem sido normal para o Brasil, porque você não consegue ter um processo de políticas públicas bem discutido”, diz o professor.  Não há uma medição de aprimoramento das políticas públicas e, por isso, a população não consegue saber se deram certo ou errado. O importante, agora, é conseguir falar sobre elas e, no mais, esclarecer ao eleitor sobre o que será feito no caso de reeleição ou na possível volta a uma antiga forma de gestão. 


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