A contemporaneidade onírica, do quilombismo utópico, está presente na seleção musical do Ney Matogrosso. Esse componente da negritude se estabelece com influência da contracultura psicodélica, percebida na polissemia hippie, que encontrou sua morada no Embu das Artes. Um lugar que na origem recente foi um famoso recanto do tribalismo urbano, formado pelos hippies e artistas, com a liderança de negritude poética de Solano Trindade. Articulados nesse quilombo onírico alternativo os Secos e Molhados entraram no ritmo utópico da poética negra, de Solano Trindade. O canto do Ney Matogrosso denuncia, com isso, o destino incerto da criança afrodescendente vítima da tentativa do negrocidio. Constata-se, portanto, arranjo dançante é sugestivo à descontração clima de descontração. Com destaque para o tá tá tá tá tá, sugerindo uma metralhadora, um som do cotidiano do funk dos cariocas empobrecidos.
A diva Ivone Lara se tornou signo, de qualidade, melódica e poética, que são próprias da vida boemia de Madureira. Sendo um território onde a herança africana de tamboralidade se tornou a identidade cultural do lugar. Constituindo um jardim musical, onde nasceram duas flores do samba, o Império Serrano e a Portela. Herdeira da portelidade afrodescendente de Madureira, Marisa Monte traz uma interpretação impregnada da doçura onirismo do tribalismo utópico negro. Trazendo mais visibilidade ao matriarcalismo musical africano. Confirmando, com isso, o sofisticado contributo da Ivone Lara, que se tornou uma lendária Dama Negra do Samba.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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