
Teresa Cristiana faz, no seu trabalho musical, questão de evidenciar o espirito da pedagogia comunal da afro-solidariedade. Isso é percebido na espontaneidade da interpretação de canções que constituem expressão da brasilidade, tal como samba – “Agradeço a Deus”, de Ivone Lara – que é um símbolo matriarcal da tamboralidade negra. Teresa Cristina busca, nesse posicionamento, a matriz do samba de raiz, chamando atenção para a presença feminina, nas rodas de samba em que as canções são geralmente autorais. O respeito identitário é percebido, nessa emergente diva do samba, a partir do zelo que ela tem com samba. Sendo ilustrativo dizer que se samba tivesse feição pareceria certamente com a Teresa Cristina.
É sugestivo observar que a canção Morena de Angola, de Chico Buarque de Holanda revela a tamboralidade da cantora Clara Nunes, cuja musicalidade é marcada pela criatividade. Essa genialidade criativa dela se revela no arranjo que traz elementos musicais que se entrelaçam passeando ritmicamente em diferentes plagas musicais, indo da Bahia com uma apropriação do samba de roda, chegando ao Rio de Janeiro com a sonoridade típica da bateria de escola de samba. Essa diversidade rítmica é guiada pelo arranjo do baixo que além de funcionar como um fio condutor faz um contraponto com a voz da Clara Nunes. Sua musicalidade traz como dimensão léxica a sofisticação do discernimento dialético de Chico Buarque, que chama atenção para a descolonização angolana, usando da corporalidade dançante com a dialética bakhtiniana da alegria revolucionaria africana.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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