
É inegável a identificação que se vê no protagonismo da jovem guarda com as mais largas faixas da população brasileira. Esse fenômeno é percebido na empatia que a música de Roberto Carlos, sempre teve com os jovens mais empobrecidos, permitindo-lhe o status de último artista de multidão, ao lado do Orlando Silva e o palhaço Benjamin de Oliveiro, que nesse contexto foi o primeiro. Nota-se que o Orlando Silva, foi afrodescendente e Benjamim de Oliveira, negro retinto. A força do sucesso do Roberto Carlos, que foi considerado Rei da Juventude, está na amplitude da representação da sua arte, que contemplava setores minoritários, marginalizados da suporta perfeição e bela intocável desse artista. Roberto Carlos é miscigênico, com inegável feição impregnada de multiplicidade, na qual o negro e o índio estão presentes, abrangendo ainda deficiente como minoria. O sucesso do Roberto Carlos tem origem na tamboralidade do violão do canto da bossa nova, na baianidade ibero-ásio-afro-ameríndia de João Gilberto.
A Ivete Sangalo apoia a sua musicalidade na africanidade do samba e busca no suingue a construção de um samba estilizado. É nesse contexto que ela demonstra sensibilidade com uma percepção que lhe aponta para o criativo diálogo com o jazz afro-estadunidense. Traços jazzísticos que são apoiados na instrumentação da brasileira. Na competente criatividade do arranjo tem os destaques tanto a sonoridade do piano e quanto o solo jazzístico do violonista Alexandre Vargas, que são fundamentais à consistente interpretação miscigênica de Ivete Sangalo. Com sua baianidade ela canta sugerindo que somente no amor é possível percepção das belezas das relações e das coisas da vida. Investida nesse discernimento de existencialidade dionisíaca ela se distancia do cartesianismo da falsa da aparência apolínea do mocismo pequeno burguês eurocaucasiano.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
.