
O trabalho musical de Lenine traz elemento do maracatu que é o mais antigo folguedo carnavalesco de origem africana. Percebo, ao meu quase cego ver, que na tamboralidade tanto do pandeiro quanto do violão têm um cuidado autoral com o propósito de construir um inventário da música nordestina. O sentimento sertanejo de Lenine é fonte da criação de um futurismo, que lhe é próprio, somando-se a uma espécie idiossincrasia poética de Paulo César Pinheiro. Isso forma uma simbiose de nuance telúrica, que alcança o paroxismo com a questão racial. Sugerindo uma abstração cultural das lutas classes, na qual a axiologia do diverso miscigênico forma a representação da amalgama ibero-ásio-afro-ameríndia, desenvolvendo-se com uma luta ontológica contra a euroheteronormatividade, que por sua vez é estranha às manifestações lúdicas de rua. Pois, elas caracterizam a inversão da ordem, na carnavalização bakhtiniana, que aponta para uma insurgência de natureza revolucionaria.
A performance artística de Noriel Vilela expressa uma conjugação dos vetores afro-brasileiro do samba e o afro-estadunidense do jazz. Isso se faz sem ferir a sua fidelidade com o samba. Com essa musicalidade que é emblematicamente negra seu canto estabelece uma oralidade das narrativas dos miscigênicos dos lugares empobrecido dos grandes centros. Tornando-se um celebre griô nas alegres rodas da orixalidade. Posicionamento que se deu contrariando a hegemonia músico-religiosa eurocaucasiana.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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