
Com um posicionamento que sugere uma irreverência insurreta o compositor Zé Manoel busca formar uma espécie de coluna revolucionaria, com músicos motivados pelo calor autoral dos alternativos. Isso é feito com seu sentimento quilombola. Cujo propósito é uma luta ontológica contra o gélido frio mercadológico da convencionalidade da música eurocaucasiana, que tem tentado oprimir a tamboralidade, caracterizada na herança musical da africanidade. Zé Manoel traz juntamente com a erudição bantu de Tigana Santana, uma teleologia africana em que a boa música tem traço de eternidade, que vai além da finitude do seu som.
Sandra de Sá revela na sua música uma influência da tamboralidade africana, que é percebida na escolha rítmica da musicalidade do seu repertório. No arranjo é inequívoco o processo cordofone, trazendo uma sugestão rítmica do ijexá, que é característico da africanidade do candomblé. Percebe-se nela uma bateria, implicada na polissemia do ritmo de funk. No quadro da sua originalidade musical é inegável a presença do sopro, fazendo frases musicais que evidencia a tamboralidade da Sandra de Sá. Com essa africanidade de irretocável sofisticação afro-musical ela canta a esquizofrenia do brasileiro, que não se aceita afrodescente, tentando oprimir o seu igual negroide, percebendo nele o efeito espelho da sua realidade racial, que lhe é alto negada.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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