
A obra musical do grupo MPB4 tem inegável africanidade da música popular brasileira, conjugando o arranjo vocal com o arranjo instrumental, que permitiu uma tecitura de samba, diferenciado. Comportamento musical que sugere uma relação dialógica com a expressão da religiosidade negra, que se tem na postura bossa novista da dupla Tom e Vinícius, cuja dimensão léxico musical acomoda virtuosidade da afrodescendência nordestina de Chico Buarque, com um dimensionamento poético miscigênico, que denuncia as relações autoritárias do poder patriarcal eurocaucasiano, que querem furtar o nosso destino, na tentativa de levá-lo para o seu lugar de dominação. A interpretação do MPB4 chama, contudo, atenção para a tentativa de furto do nosso destino, que tem sido, barrada, historicamente, pela resistência cultural, remando contra a fria correnteza autoritária, que é sempre estranha ao calor do sentimento do coração ibero-ásio-afro-ameríndio.
A interpretação miscigênica de Simone é caracterizada por uma carnavalização que se dá em uma esperança dos folguedos carnavalescos, que são marcados por uma circularidade existencial da orixalidade. Esse discernimento revolucionário da alegria das rodas de africanidade determina o acolhimento na perspectiva da igualdade, com respeito às diferenças. Onde as pessoas que vão sempre voltam porque são a própria história do grupo, como no Ubunto – “eu sou porque tu és”, compreensão que é essencial as relações comunais da solidariedade, que é traço da unidade cultural africana. No canto de Simone a musicalidade dos cordofone dialoga com os membranofones, expressando sua africanidade, soltando sua voz baiana impregnada na axiologia da orixalidade da cultura soteropolitana, que foi por isso uma das mais linda entre as vozes femininas, que fizeram sucesso nas décadas oitenta e noventa.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
.