
A Gal Costa canta valorizando o legado matriarcal da africanidade. Fiel a adoração do componente religioso da axiologia baiana sua interpretação dimensiona a orixalidade, cantando a polissemia maternal que se vê na delicadeza do cuidado divino da ialorixá, Mãe Menininha do Cantois. A teologia afro-brasileira na arte musical da Gal Costa é notada, de forma inequívoca, na acuidade da seleção do seu repertório, quando ela revela a afrodescendência, cantando a negra baianidade de Caymmi.
A Maria Rita tem uma musicalidade, cujos arranjos demonstram inegável identificação com a brasilidade miscigênica do samba. A cantora aponta para o sentido civilizatório dessa tamboralidade, aberto às outras possibilidades, a despeito do racismo, de forma rítmica e harmônica na multiplicidade musical brasileira. Maria Rita tem uma sonoridade que é sugestiva para o discernimento da apropriação do samba de partido alto. Diante da gélida distopia estrutural à logica acumulativa eurocaucasiana, essa jovem diva traz uma interpretação afrodiasporica da utopia, Maria Rita insiste cantando que o amor livre tem o calor do sorriso no perdão, que me parece próprio do sentido comunal do matriarcalismo da africanidade.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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