Quilombo Academia: A consciência e o sentimento negro no canto nordestino do Luiz Gonzaga e Alceu Valença

A musicalidade negra no sentimento sertanejo do canto de Luiz Gonzaga e Alceu Valença

 Publicado: 05/07/2024     Atualizado: 17/07/2024 as 8:27
Quilombo Academia - USP
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Quilombo Academia: A consciência e o sentimento negro no canto nordestino do Luiz Gonzaga e Alceu Valença
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Luiz Gonzaga tem uma melodia simples, pujante e marcante, amparado na idealização de que os baixos da sanfona do pai trazem beleza e riqueza, além da compreensão musical. De tal sorte que, a virtude no comportamento do mestre, que ele é leva o aprendiz à idealização platônica. Chamo, contudo, atenção para a possibilidade de que na clássica canção Luiz Respeita Januário, da dupla – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, a cirúrgica interpretação miscigênica de Luiz Gonzaga, já trazia, de forma crítica e reflexiva, a consciência, cujo pai era, infelizmente, no pensamento sertanejo – uma propriedade dos eurodescentes enriquecidos. Restando aos nordestinos, que são amerindiodescendentes e afrodescendente, a orfandade. Uma triste condição que ficou caracterizado no persistente negrocidio. Fenômeno tratado com esmero na reflexão necropolítica pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, que se fez antes presente no canto sertanejo de Luiz Gonzaga.

A tropicalidade musical de Alceu Valença apresenta um arranjo que se baseia na africanidade diaspórica, jamaicana, brasileira e estadunidense. Alceu traz a batida do reggae jamaicano ao som da guitarra elétrica, que é executada na excepcionalidade do músico Paulo Rafael. A nordestinidade do Alceu é ainda surpreendente, quando se introduz o ritmo afro-brasileiro do xote. Com esse comportamento musical seu arranjo progride chegando ao paroxismo com solo do guitarrista roqueiro, que remete para o blues do negro norte-americano. Parece-me que é cristalino o descontentamento do Alceu, com o comportamento eurocidental caucasiano, levando-o buscar a pureza e o amor fora desse contexto convencional, que é totalmente monocultural. Assim Alceu recorre para uma visão mais ecológica, que é própria da cosmovisão africana.


Quilombo Academia

O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.

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