Chico Buarque interpreta o samba-enredo com subjetividade da floresta amazônica, baseado nos saberes das circularidades sagradas da africanidade, que são diferentes da linearidade do classicismo eurocidental. Ele revela uma espécie de ecologia sentimental de avenida, marcada pela subjacência dos pés na roda de samba, da herança africana, que é percebida na intersecção cultural do ribeirinho e do quilombola, onde as mitologias lendárias ibero-afro-ameríndio são estranhas ao positivismo eurocêntrico, implicado na lógica acumulativa. Para o Chico, três elementos, fundamentais no samba-enredo, sendo eles: a origem do ticumbi bantu, a subjacência procissional do catolicismo de lusitanidade popular e a música gesto do efeito de distanciamento no teatro épico reflexivo brechtiana, são estruturantes no samba-enredo, cuja ancestralidade negra está, substancialmente, na dor e alegria, desse gênero do samba. trazendo mais sentidos à militância do Chico Buarque, que aprofunda aí sua influência africana.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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