Quilombo Academia: A africanidade presente na composição de Nelson Cavaquinho e na interpretação de Maria Bethânia

A tamboralidade negra ioruba caracteriza o samba canção de Nelson Cavaquinho e o canto miscigênico de Maria Bethânia

 08/03/2024 - Publicado há 5 meses
Quilombo Academia - USP
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Quilombo Academia: A africanidade presente na composição de Nelson Cavaquinho e na interpretação de Maria Bethânia
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A composição de Nelson Cavaquinho, além revelar um sambista romântico, que é dado totalmente ao cristianismo negro primogênito egípcio-bantu, que é a primeira civilização da humanidade, sendo a razão pela qual seu samba canção é lugar de amor, onde o coração desse poeta se torna um jardim do perdão. O Nelson sugere ainda uma idealização poética astrológica à sua amada, ou seja, a irreverente Lilith – a Lua Negra. Demandando-lhe nuance léxica sugestiva de uma africanidade judaica. Sua musicalidade negra revela inegável relação dialógica entre o instrumental percussivo e o harmônico próprio do samba, que se desenvolve na dinâmica de uma tamboralidade do candomblé, percebido no andamento rítmico do ijexá, que foi herdado da orixalidade ioruba.

A musicalidade afro-baiana de Maria Bethânia traz uma amplitude holística, que é percebido no dimensionamento miscigênico do seu canto. A interpretação da cantora sugere o resgate musical do maracatu, que é, entre nós, por sinal o mais antigo dos folguedos carnavalescos de origem africana. Com essa notável herança afro-brasileira, a cantora constrói uma atmosfera lúdico gregária, articulada na dançante circularidade da roda de samba, onde a dialética alegria revolucionaria bakhtiniana é processada ao cotidiano para se comemorar a derrota da tentativa tristeza, imposta aos empobrecidos não brancos. Nesse quadro é perceptível um padrão melódico de flauta cíclico, que se mostra sugestivo ao entrelaçamento com a africanidade de uma orquestra de pífanos. Essa originalidade em Maria Bethânia permite tons de contemporaneidade, percebidos nos traços da cultura pop, característica dos anos setenta. Sua genialidade baiana constrói uma festa tamboralidade, celebrando à diversidade com interpretação influência ioruba em um canto miscigênico.


Quilombo Academia

O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.

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