A musicalidade de Alaide Costa tem uma harmonia sugestiva para pensar nas cores da alma, como jeito musical característico do Milton Nascimento. A cantora tem nuances do misticismo telúrico da negritude própria do mineirismo do Bituca. Com essa conexão afro-mineira a Lala, como é chamada Alaide faz, um dimensionamento léxico da orixalidade do pai Oxalá. A Lala desenvolve no seu canto uma hermenêutica, trazendo com genialidade a teleologia do destino afro diaspórico. Alaide denuncia cantando que a ontologia da história do guerreiro em busca de paz foi ocultada, na narrativa monocultural eurocaucasiana, que tenta desconsiderar os contributos dos negros. A interpretação cirúrgica impregnada pela axiologia negra de Alaíde Costa reforça a compreensão da sua musicalidade, enquanto resistência da negritude.
A mineiridade negra da cantora Ceumar traz uma genialidade no arranjo do violão. Esse comportamento musical quando conjugado ao seu perfeccionismo na execução da melodia da voz parece, ‘ao meu quase cego ver’, que tensiona ainda mais a sofisticada afirmação positiva da mãe. Pois, é nessa afirmação positiva, que Ceumar chama, de forma inequívoca, atenção para o humanismo do matriarcado africano. Ela faz uma construção instrumental, trazendo inegável atmosfera da herança afro-ibérica do jeito musical mineiro. Assim ela canta uma possível abstração musical, sugerindo o cuidado da mãe com o filho, vítima da orfandade, própria da opressão do cotidiano afro-ameríndio, que é próprio dos filhos dos empobrecidos, na vida das Gerais. A cantora mostra um violão que não deixa a voz solitária, auxiliando no desenvolvimento da melodia. A criatividade da sua intenção de construir melodias dobradas traz força e beleza à letra da canção, que sugere uma justa apologia à polissemia materna. Fenômeno essencial na africanidade, que encontra nas relações matriarcais o princípio da existencialidade pedagógica, presentes atrás das místicas Montanhas da linda Minas Gerais, presente na sutileza do canto de Ceumar.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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