Mosaicos Culturais #58: Bethânia canta o temor ao se confrontar com o passado e queima a carta de um antigo amor

Ouvintes da Rádio USP podem agora ouvir a carga emocional da canção extraída do poema Todas As Cartas de Amor São, de Fernando Pessoa, que ecoava nos ouvidos de Carlos Alberto, estudante de Licenciatura em Física, da USP

 Publicado: 10/07/2024
Mosaicos Culturais - USP
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Mosaicos Culturais #58: Bethânia canta o temor ao se confrontar com o passado e queima a carta de um antigo amor
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Maria Bethânia Viana Teles Veloso, aclamada como a “Rainha do MPB” e detentora de 23 prêmios da Música Brasileira, é uma das maiores artistas brasileiras. É cantora, compositora, produtora, atriz e poetisa. Sua trajetória musical, teve início na década de 1960 em Salvador, onde participou de diversos shows e espetáculos ao lado de Gilberto Gil e Gal Costa (1945-2022). Em 1965, estreou oficialmente na música com o álbum Maria Bethânia, que incluiu o dueto marcante com Gal Costa em Sol Negro. Em 2016, recebeu o título doutor honoris causa da Universidade Federal da Bahia. Bethânia continua em ativa com seu irmão Caetano Veloso em turnê inédita Caetano & Bethânia (com informações da Wikipedia).

Capa do álbum Imitação da Vida, de Maria Bethânia, 1997. Foto: Reprodução

Imitação da Vida, um dos 22 álbuns ao vivo de Maria Bethânia, lançado em 1997 pela EMI Music Brasil, com produção de Guto Graça Mello, arte e direção de João Augusto, apresenta uma inovação: a reprodução de poemas do heterônimo de Fernando Pessoa (1888-1935), Álvaro de Campos.

Álvaro de Campos é o pseudônimo denominado pelo autor como “o mais histericamente histérico de mim”, em carta a Adolfo Casais Monteiro em 1935. Figura complexa e intrigante, Álvaro de Campos era um engenheiro naval que vivia em Londres, mas retorna a Lisboa desempregado e imerso em um mar de insatisfação com a realidade. Seus poemas exploram o decadentismo, o pessimismo, o tédio e a náusea, contrastando com a exaltação da modernidade e do sensacionismo, perspectivas que também se manifestam em seus poemas amorosos, permeados por cansaço com a impossibilidade de concretizar desejos e pela estranheza da solidão interior (com informações da Wikipedia).

Por que Fernando Pessoa?

Em entrevista à Globo, Maria Bethânia confessou seu prazer em recitar os poemas do autor português e incluí-los  em seus discos. Essa admiração foi intensificada pela amizade da cantora com Cleonice Berardinelli (1916-2023), renomada professora universitária, especialista em literatura portuguesa e integrante mais longeva da Academia Brasileira de Letras.

“Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor/ É que são ridículas”

A canção Mensagem foi composta por Aldo Cabral e Cícero Nunes, produzida por Guto Graça Mello e interpretada por Maria Bethânia. A mensagem da canção desprende-se de uma mistura de sentimentos incertos. Ao incluir os versos do poema “Todas as cartas de amor são”, a letra reforça e despreza a existência das cartas de amor com saudosismo e receio pela pessoa que uma vez desprezou-lhe. Leia o poema “Todas as cartas de amor são” aqui.

A dependência das cartas como meio de comunicação intensifica a carga emocional da história, reforçando a angústia diante da mensagem recebida. As cartas, símbolos de comunicação e intimidade, assumem um papel central na canção. Sua presença evoca a era pré-digital, na qual a troca de mensagens era um ritual carregado de significado e emoção.

Ao som de Mensagem, Carlos Alberto, estudante de Física do Instituto de Física da USP, participou da enquete do programa Mosaicos Culturais, da Rádio USP. Ele ressalta a letra da canção, que remonta a um tempo em que não existiam as redes sociais. O contato pessoal era dependente das cartas. A história da música caracteriza-se pelo temor de ler a carta de um antigo amor. Diante a falta de coragem em abri-la, ela queima o envelope lacrado como uma forma de autopreservação.

Ouça o podcast no link acima.

O programa celebra a diversidade cultural, a riqueza da música brasileira e cria um senso de comunidade. O objetivo é dar voz aos estudantes da USP por meio de entrevistas sobre gostos e percepções musicais . Este podcast reproduz a experiência de escuta no programa Mosaicos Culturais – Ouça o Que Estudantes Ouvem , transmitido nos dias 8 e 9 de julho de 2024.

Se você deseja se juntar a nós nessa jornada musical, basta enviar um áudio compartilhando as melodias que embalaram seus dias e também as próprias interpretações sobre a interseção entre música e cinema. Estamos ansiosos para ouvir sua contribuição! Sua participação é essencial para enriquecer nosso dropes!
Entre em contato conosco pelo número do nosso WhatsApp: (11) 972815789.
 

Por Regina Lemmi
Estagiária sob supervisão de Magaly Prado


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Mosaicos Culturais
vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 11h e às 16h na Rádio USP (93,7 MHz, em São Paulo, e 107,9 MHz, em Ribeirão Preto), e ainda via internet, através do site da emissora no link jornal.usp.br/radio/. É possível também sintonizar a versão podcast pela internet em jornal.usp.br/podcasts/ Todos os episódios de Mosaicos Culturais – Ouça o Que os Estudantes Ouvem estão disponíveis na página de seu arquivo neste link.

Apresentação e edição: Caroline Kellen
Identidade sonora e produção: Bruno Torres
Edição: Cid Araujo
Supervisão: Magaly Prado

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