Momento Sociedade #5: Lei Rouanet deve apoiar grandes exposições internacionais?

Ministério da Cidadania limitou o teto de captação da Lei Rouanet à 1 milhão de reais por projeto. Nos últimos anos, boa parte dos recursos disponíveis pela ferramenta foram dedicados a grandes eventos. Desde 2011, o Brasil, principalmente nas grandes cidades, faz parte do circuito de exposições blockbusters, caracterizadas por seu grande porte e caráter internacional. As mostras internacionais têm um impacto cultural onde o país mais precisa? Quais os interesses por trás delas? Com a limitação orçamentária, a cultura nacional não estaria prejudicada em uma concorrência injusta? Essas são as perguntas que Marina Miorim busca responder em sua tese de doutorado.

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 25/06/2019 - Publicado há 5 anos
Momento Sociedade - USP
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Momento Sociedade #5: Lei Rouanet deve apoiar grandes exposições internacionais?
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As grandes cidades brasileiras passaram a receber, desde 2011, um novo modelo de exposições, as blockbusters. Tratam-se de grandes ofertas culturais itinerantes, com vários elementos e acervos não disponíveis em um só lugar do mundo. Por isso, lotam museus e mobilizam filas, com a população buscando essas oportunidades. A tese de doutorado de Marina Miorim, As exposições blockbusters: política cultural e mecenato privado para as artes visuais no Brasil contemporâneo, estuda, mais que o impacto cultural dessas grandes mostras, os seus financiamentos e interesses.

José Luiz Portella, doutorando em História Econômica na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH),  no Momento Sociedade desta semana, se apoia na tese para traçar uma análise crítica do patrocínio via Lei Rouanet a essas exposições. Em abril, o Ministério da Cidadania reduziu o teto de captação dos projetos para 1 milhão de reais, dos 60 milhões anteriores. “As blockbusters tem alto custo. São de dois a três milhões por mostra, de acordo com a tese. Logo, suas realizações estariam em risco”, aponta Portella.

Por outro lado, “os estudos indicam um grande apoio das embaixadas e consulados às exposições culturais não apenas por divulgação dos países engajados, mas também pela articulação de interesses políticos e econômicos”, declara o doutorando. A teoria das relações internacionais chama essa influência de soft power.

A tese ainda acusa a restrição desses espaços culturais às grandes cidades. “Um dos objetivos das mostras blockbusters seria gerar uma oferta cultural inédita àqueles que não podem ir à Europa. Porém, elas não vão ao interior, onde o Brasil é mais pobre. Então, não oferecem essa oportunidade justamente a quem é mais pobre”, explica Portella. Além disso, essas exposições concorrem por um orçamento, agora ainda mais apertado, com a cultura nacional. E, o mercado brasileiro não conta com os mesmos incentivos.

Em vista disso, “o quanto é correto a Lei Rouanet dar apoio a essas exposições?”, pergunta a tese na voz de Portella. Marina Miorim, no processo de pesquisa, questiona os protagonistas das blockbusters, atores, produtores culturais, curadores, museus, corporações e embaixadas.  A resposta estará na conclusão do estudo.


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