Além dos problemas odontológicos comuns a todos, as pessoas com síndrome de Down podem ter alguns desses problemas aumentados ou com maior frequência. Para falar sobre a saúde bucal do portador da síndrome de Down, o Momento Odontologia desta semana conversa com a professora Marina Helena Cury Gallotini, da Faculdade de Odontologia (FO) da USP, especialista em Patologia Bucal, Medicina Oral e Pacientes Especiais.
Marina conta que os pacientes com síndrome de Down têm risco aumentado para doença periodontal, alta frequência à má oclusão e tendência de maxila atrésica (estreitamento da arcada superior no sentido transversal), pouco desenvolvida e, assim, à mordida cruzada. E, ainda, diz a professora, esse paciente tem frequência maior de dentes com distúrbios de desenvolvimento como na forma e no tamanho.
Consultas longas podem levar à agitação
Para a professora, a prevenção é também fundamental para o portador de Down. Porém, deve-se evitar consultas longas que possam fazer esse paciente ficar muito agitado, cansado e que o leve a perder o condicionamento que foi adquirido e que permite que seja atendido em ambulatório periodicamente. A recomendação, diz, é que as crianças de forma geral façam a primeira visita dentro do primeiro ano de vida. A primeira visita deve acontecer antes da erupção do primeiro dente, que ocorre em torno dos seis meses de vida. “Nessa consulta é importante a mãe ou cuidador receber orientações em relação à higiene, alimentação e, ainda, sobre algumas questões que essa criança pode exibir ao longo da vida.”
A alimentação do paciente com Down também deve receber cuidados especiais; aquelas ricas em açúcares e carboidratos vão impor uma condição pior de saúde, com maior risco para cárie, por exemplo. “Outra questão que merece atenção são os hábitos de higiene, uma vez incorporados na rotina são realizados com mais tranquilidade e devem ser bem sólidos desde os primeiros momentos.”
Visitas periódicas a um dentista são importantes. “Hoje em dia existem medidas preventivas e menos invasivas que permitem que a criança tenha doenças, como cárie, doença periodontal ou maloclusão, diagnosticadas precocemente, com isso o tratamento começa mais cedo e com melhores resultados.”
Escolha do profissional
Marina alerta que no atendimento da pessoa com Down é importante que o profissional se preocupe com aspectos gerais e com comorbidades. Dá, como exemplo, alterações importantes como cardiopatia congênita, que tem risco aumentado para endocardite infecciosa, além das condições comportamentais. “Cada caso tem que ser analisado de forma diferenciada.”
Outro aspecto, diz a professora, é o risco aumentado de contenção física que eles impõem. “Esse paciente pode ter uma condição chamada instabilidade atlantoaxial, problema ortopédico bem conhecido especialmente nas crianças com síndrome de Down, caracterizado pela frouxidão ligamentar entre a primeira e a segunda vértebra, que aumenta o risco de danos caso uma das vértebras pressione a medula espinhal. Nesse caso movimentos bruscos e contenções são contraindicados.”
Portanto, o dentista que vai atender o portador de síndrome depende do paciente. “Aquele que tem a síndrome, mas com uma saúde bem controlada, com um comportamento que aceita o tratamento e que exige muitos desafios pode e deve ser atendido por um profissional que se sinta capaz de fazê-lo. Já aqueles com muitas comorbidades, além da síndrome, devem ser atendidos por um profissional com mais experiência, nesse caso, dentistas com formação no atendimento de pacientes especiais, especialidade reconhecida no Brasil.”
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