
Em 1717, Johann Sebastian Bach foi convidado para uma disputa ao cravo com o famoso cravista e organista francês Louis Marchand, que estava em longa turnê pelo território alemão. Bach, que na época atuava na corte de Weimar, aceitou o convite e viajou para a corte de Dresden, onde se daria o evento. Porém, a disputa não aconteceu. No dia marcado para o duelo, Marchand teria deixado Dresden logo pela manhã, porque reconhecera a superioridade de Bach e queria evitar a derrota.
Esse relato está publicado na primeira biografia de Bach, escrita pelo músico e musicólogo alemão Johann Nikolaus Forkel (1749-1818) e publicado em 1802. Entretanto, especialistas em Bach desconfiam da veracidade dessa história, porque ela não está documentada, a crítica francesa nunca mencionou o episódio e não existe nenhuma evidência de que Marchand tenha “fugido” de Bach, como ficou consagrado na historiografia.
Ainda de acordo com Forkel, mesmo sem a presença de Marchand, Bach deu um concerto ao órgão que encantou os nobres presentes na ocasião. Embora não se saiba quais músicas foram executadas nesse concerto, duas obras para cravo dão uma ideia do tipo de música que o compositor alemão poderia ter exibido naquele dia: a Fantasia Cromática e Fuga em Ré Menor (BWV 903) e a Tocata em Fá Sustenido Menor (BWV 910), ambas para cravo. As duas obras são apresentadas nesta edição de Manhã com Bach, que traz ainda a cantata Ich will den Kreuzstab gerne tragen, “Eu quero com prazer trazer a cruz” (BWV 56).