Para longe de pensamentos obscurantistas, é fato que o desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil constitui condição essencial para um verdadeiro desenvolvimento socioeconômico e para a implantação de uma sociedade mais justa no País. A nossa produção científica praticamente dobrou do começo para o fim da primeira década do século XXI e continuou sua ascensão consistente.
Essa expansão notável, fruto de algumas políticas muito bem estruturadas, foi baseada na capacidade de produzir ciência das universidades públicas brasileiras, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), duas grandes universidades estaduais paulistas, além de outras universidades federais, como a do Rio de Janeiro (UFRJ), a de Minas Gerais (UFMG) e a do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mais de 95% da produção científica do Brasil nas bases internacionais deve-se à capacidade de pesquisa de suas universidades públicas.
De acordo com uma pesquisa feita pela Clarivate Analytics, o Brasil, no período de 2011 a 2016, publicou mais de 250.000 artigos na base de dados Web of Science em todas as áreas do conhecimento, correspondendo à décima terceira posição na produção científica global, na qual se apresentam mais de 190 países.
No entanto, o contingenciamento das verbas das universidades públicas federais e o corte de bolsas e de financiamentos podem colocar em risco as conquistas científicas brasileiras, além de fazer com que muitos pesquisadores procurem no exterior um porto mais seguro.
Para falar sobre a situação atual da ciência no Brasil, o Diálogos na USP recebeu os professores Marco Antonio Zago, ex-presidente do CNPq e ex-reitor da USP e atual presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e Marcos Silveira Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências da USP e ex-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo.
Marco Antonio Zago destacou que a ciência brasileira se fortaleceu muito nas duas últimas décadas, adquirindo reconhecimento mundial. Ainda assim, ele disse acreditar que “existe uma divisão muito nítida entre o potencial do país como um todo e do estado de São Paulo, que tem um vigor obviamente muito mais evidente”.
Marcos Silveira Buckeridge salientou que não há mais uma distinção entre laboratórios brasileiros e estrangeiros, além de ressaltar áreas nas quais a ciência brasileira vêm despontando, como a agricultura e a engenharia. “Nós temos uma produção científica não só muito boa em si mas que também veio produzindo produtos que realmente fazem uma diferença na sociedade hoje. A ciência não ficou só na produção científica”, afirmou.
Zago lembrou o exemplo dado pela Alemanha, que decidiu investir 42 bilhões de euros nas universidades para formar novos pesquisadores. “É um país que tem uma economia muito forte e tem uma longa tradição tanto de educação superior como de pesquisa de qualidade e que sempre pode ser visto como uma referência”, disse o professor. Ele também comentou que “a Alemanha baseia o seu desenvolvimento e o seu sucesso econômico principalmente no conhecimento, na ciência e na tecnologia”.
Já o Buckeridge atentou para os professores que “estão com a tocha na mão”. Para ele, estes são pesquisadores que “estão literalmente no escuro. Eles estão discutindo coisas que ninguém se interessa mas que daqui há dez, vinte anos irão se tornar aplicáveis”. O professor também apontou que “é muito barato, em relação ao todo, fazer esse tipo de pesquisa ‘com a tocha na mão'”, e que os projetos seguintes, visando aprofundar os resultados iniciais e buscando aplicações seriam os mais custosos.
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