“Série Energia”: Energia nuclear ganha importância na transição energética

Conceito de Reverse Nimby explica como o temor por acidentes, como os de Fukushima e Chernobyl, deu lugar à expectativa de desenvolvimento

 Publicado: 14/02/2025 às 13:00
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Imagem é uma fotografia colorida que mostra a usina nuclear Angra 1, ao fundo, grande área verde
Usina Nuclear Angra 1 produz energia nuclear que é ofertada pelo Sistema Integrado Nacional (SIN) – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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Com o agravamento das mudanças climáticas e a urgência por uma transição energética eficiente, a aceitação crescente de projetos nucleares por comunidades ao redor do mundo marca uma transformação no debate energético global. Tradicionalmente, a energia nuclear era recebida com resistência devido a preocupações sobre acidentes e resíduos. No entanto, a percepção está mudando à medida que a tecnologia evolui e os benefícios ambientais e econômicos tornam-se mais evidentes. 

A energia nuclear, hoje, já desempenha um papel central na descarbonização do setor elétrico. Ela combina alta densidade energética com estabilidade na geração e baixas emissões de gases de efeito estufa. Isso a posiciona como uma solução estratégica frente à variabilidade das fontes renováveis, como a solar e a eólica. Contudo, acidentes históricos como os de Chernobyl e Fukushima geraram um estigma difícil de superar. 

Novas tecnologias, como os Pequenos Reatores Modulares (SMRs), estão revertendo esse cenário. Esses reatores são menores, mais seguros e economicamente viáveis, sendo ideais para atender a demandas locais e integrar-se a redes descentralizadas.

O conceito de Reverse Nimby (N.I.M.B.Y, do acrônimo “Not-In-My-Back-Yard” e que em tradução livre significa “Não no meu quintal”), reflete uma mudança de mentalidade em comunidades que, antes relutantes, agora demonstram interesse em receber projetos nucleares. Essa abertura é impulsionada pela conscientização sobre os benefícios da energia nuclear na luta contra o aquecimento global. Exemplos incluem municípios que veem esses projetos como oportunidades econômicas, criando empregos e gerando receita local. Além disso, regiões historicamente dependentes de indústrias pesadas estão utilizando a energia nuclear para revitalizar suas economias.

No Brasil, as usinas nucleares de Angra dos Reis são um exemplo concreto de como a energia nuclear pode integrar-se ao sistema energético nacional. Apesar de atualmente representarem menos de 2% da matriz elétrica do País, as usinas Angra 1 e Angra 2 fornecem eletricidade de forma confiável e de baixo carbono, contribuindo para a segurança energética. A construção planejada de Angra 3 promete expandir essa participação, mas já é notável o apoio local ao projeto: pesquisas recentes indicam que 71% dos moradores de Angra dos Reis são favoráveis à presença das usinas. Esse apoio reflete a percepção de benefícios econômicos, como geração de empregos e movimentação da economia local.

Mesmo com essa mudança de paradigma os desafios persistem. A gestão de resíduos nucleares e os custos iniciais elevados continuam a ser pontos de atenção. No entanto, avanços significativos estão sendo feitos, como o desenvolvimento de técnicas mais seguras de armazenamento de resíduos e a reutilização de materiais radioativos. Além disso, políticas públicas que garantam incentivos e regulamentações claras podem reduzir barreiras e acelerar a adoção dessa tecnologia.

A mudança na percepção pública também é influenciada pela urgência da crise climática. Estudos mostram que para limitar o aquecimento global a 1,5°C será necessário dobrar a capacidade nuclear global até 2050. Países como França, China e Estados Unidos estão liderando esse movimento, enquanto outras nações começam a reavaliar suas posições. No Brasil, embora o foco esteja nas fontes renováveis, a energia nuclear pode desempenhar um papel complementar estratégico.

A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA), que produziu este episódio com Murilo Miceno Frigo, discente de doutorado e professor do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS). A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.


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