Por Marisa Midori Deaecto e Nadège Mézié
A Semana Franco-Uspiana de Cooperação Científica nasceu com um neologismo, embora as relações entre a USP e a França, como sabemos, tenham deitado suas raízes há quase um século. Ou antes, em 1908, quando Georges Dumas, então professor de Psico-Filosofia na Sorbonne, faz sua primeira visita ao Rio de Janeiro e São Paulo, escalas de uma viagem mais ampla e intensa pela América do Sul. Como ele relembrará, em 1921, no discurso de fundação do Liceu Franco-Brasileiro São Paulo (atual Liceu Pasteur), publicado em O Estado de S. Paulo no dia 5 de novembro de 1921, à página 5:
“Faz agora treze anos (era 30 de setembro de 1908) que vim pela primeira vez a S. Paulo com uma missão do agrupamento das Universidades Francesas junto a Universidade de S. Paulo, e na vossa cidade de alta cultura, encontrei desde logo reunida em torno da minha figura as mais activas e mais qualificadas sympathias.”
O que este eminente intelectual francês chama de Universidade de São Paulo conformava, na verdade, uma ideia, senão um projeto futuro. É verdade que este projeto já apresentava um esboço bem definido, tomado a partir das faculdades e escolas superiores da capital – Faculdade de Direito, Faculdade de Medicina e Escola Politécnica – , sem esquecer o papel relevante desempenhado pela Escola Normal para a formação de professores e, logo, para a expansão do ensino primário e secundário em todo o Estado. Cumpre ressaltar que Dumas desempenhará, em 1934, o papel de articulador maior da missão francesa que concorreu para a fundação da primeira universidade paulista e, no seu bojo, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
Pensando nisso, a 2ª Semana Franco-Uspiana de Cooperação Científica será inaugurada com a conferência da professora e vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda, sobre esse diálogo profícuo de brasileiros e franceses na fundação da Universidade de São Paulo.
Mas é preciso ressaltar que a 2ª Semana Franco-Uspiana de Cooperação Científica está bastante atenta para as questões do presente. A Amazônia terá um espaço central nas discussões da Semana, seja por meio de uma jornada dirigida pelo geógrafo Hervé Théry, discípulo de Pierre Monbeig, cuja proposta é pensar esse imenso território, sua história e seus problemas de um ponto de vista transnacional, seja pela contribuição de Philippe Descola, antropólogo francês, discípulo de Claude Lévi-Strauss e pesquisador mundialmente reconhecido por suas reflexões sobre a relação entre natureza e cultura.
Na era da revolução das tecnologias de informação e comunicação, cujos desdobramentos sobre as formas de transmissão e guarda dos saberes se apresentam como uma incógnita, estudos no campo da história do livro, da edição e das bibliotecas têm atraído cada vez mais jovens pós-graduandos, além de uma comunidade muito expressiva de pesquisadores e leitores. Se, no ano passado, essa área foi contemplada com a presença do historiador Christian Jacob, neste ano Yann Sordet, bibliotecário e historiador do livro, proporá uma jornada de estudos sobre os processos de produção e difusão editoriais, e sobre as origens das bibliotecas públicas na Europa do Antigo Regime. Temas ancorados no passado, porém, conexos a inquietações das mais relevantes na época atual, dentre as quais: Livros impressos são ainda meios relevantes para a difusão do conhecimento? Qual o futuro das bibliotecas públicas?
As relações de gênero no mundo da pesquisa constituem outra temática da maior relevância e serão debatidas no colóquio Equidade, Diversidade e Inclusão em Ciência, Tecnologia e Inovação, coordenado pela profa. Janina Onuki. Ainda no campo da organização científica, o workshop Para um Laboratório Internacional USP-CNRS em Ciências Sociais e Humanas: Mundos em Transição inaugura o espaço USP-CNRS com a proposta de fortalecer a cooperação e dar melhor suporte às relações franco-brasileiras nas áreas de ciências humanas e sociais. A organização de um laboratório internacional voltado para essas áreas está em curso e terá como tema Mundos em Transição. Esse workshop será uma oportunidade para apresentar os objetivos e as ferramentas desse futuro laboratório e para discutir seu pré-projeto científico.
Esses são apenas alguns destaques de uma programação muito mais ampla, empenhada em congregar a comunidade uspiana, pesquisadores franceses e diversos setores da sociedade interessados e comprometidos com a educação, a pesquisa e a cultura. Aguardamos vocês!