“Conhecimento: custódia e acesso” é o título da exposição, que discute o resgate, a preservação e o acesso ao conhecimento
O Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (SIBiUSP), em parceria com o Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, promoverá, entre os dias 13 de março e 30 de abril, a exposição “Conhecimento: custódia e acesso”, instalada no espaço onde antes funcionava a livraria da Imprensa Oficial do Estado.
A realização é do SIBi, dirigido pela professora Sueli Mara S. P. Ferreira, e a curadoria da exposição é do professor Marcos Galindo.
A exposição “Conhecimento: custódia e acesso” aborda a problemática do resgate, preservação e acesso ao conhecimento para assinalar a tensão envolvida na relação entre esses elementos e as mudanças excepcionais que as novas tecnologias de informação e comunicação vêm produzindo na sociedade contemporânea, no sentido da democratização crescente do acesso ao legado de conhecimento da humanidade que sempre se abrigou nas bibliotecas ao longo da história.
A mostra busca, assim, discutir o papel das bibliotecas na construção do fenômeno social do conhecimento e motivar a reflexão sobre os instrumentos técnicos e práticas sociais que permitiram tornar a informação acessível e fortalecê-la como matéria-prima básica para a construção de novas formas de conhecimento.
As bibliotecas devem ser entendidas como instrumentos de organização e gestão do conhecimento, comportando elementos técnicos e lógicos (tecno+lógicos) que incidem sobre as relações sociais e concorrem para que o conhecimento e as instituições de sua guarda possam cumprir uma função social em uma época determinada.
A visita à exposição, aberta ao público em geral, será gratuita e destinada, sobretudo, a alunos de ensino médio, universitários e pós-graduandos, pesquisadores, professores e profissionais interessados em produção do conhecimento, recursos de acesso e recuperação de informação, acervos e bibliotecas memoriais.
Para a diretora do Sibi, Sueli Mara S. P. Ferreira, no limiar de seus 30 anos de existência, o Sistema Integrado de Bibliotecas busca tornar transparente a ação de mais de 800 profissionais em 44 bibliotecas alocadas nos campi da Universidade. “É o momento de se efetivar o diálogo necessário entre bibliotecas públicas universitárias e a sociedade. Para tanto, idealiza-se esta exposição de modo a resgatar a memória da informação científica e tecnológica, procurando recuperar uma perspectiva crítica da ação do sistema de informações da USP, na qual buscamos destacar a função social das bibliotecas de maneira geral e, em particular, as universitárias, com vista ao planejamento do futuro e à sua plena integração no novo ciclo de desenvolvimento que se faz anunciar”.
Os módulos da exposição
Partindo do estereótipo de biblioteca – livros enfileirados numa estante – a exposição se propõe a mudar esse pré-conceito do visitante, que, no decorrer da visita, identificará as mudanças fundamentais e conceituais nela ocorrida frente ao desenvolvimento tecnológico e sua permanente inserção educacional, cultural e educacional, independentemente da época ou localização.
Num primeiro momento, apresenta-se um panorama sobre as formas de entendimento do conhecimento principiado pelos mitos criacionistas ocidentais, que guarda uma marca de origem que o coloca na condição de “pecado original” e, por mandato divino, passa a ser de responsabilidade religiosa. Essa perspectiva dá ao conhecimento uma condição de sacralidade, em contraposição ao mundo laico ou profano.
Nem mesmo as universidades medievais desarticulam essa associação do conhecimento ao sagrado, contribuindo até mesmo para transferir ao universo de conhecimento da ciência essa aura de sacralidade. Só muito lentamente elas se tornarão instrumentos de democratização.
A seguir, a exposição trata da evolução dos instrumentos técnicos de registro e preservação do conhecimento, inventariando desde as formas primitivas de escrita e a invenção da prensa de tipos móveis até as modernas tecnologias de informação e comunicação, mostrando seu impacto sobre a ordenação da vida social. Conclui com a apresentação de uma linha do tempo evidenciando alguns aspectos relacionados à produção, registro e acesso ao conhecimento desde a antiguidade até hoje.
No segundo momento, é dado especial destaque a figuras ligadas ao movimento modernista e à Semana de Arte Moderna de 1922, entre os quais a pessoa do bibliotecário Rubens Borba de Morais que, com Paulo Duarte e Sérgio Milliet, sob a coordenação de Mário de Andrade, participou da criação, em 1935, do Departamento de Cultura e Recreação da Prefeitura de São Paulo. Recorda-se aí a atuação de Borba de Morais na modernização da Biblioteca Pública Municipal, a organização da rede de bibliotecas da cidade e sua ação em 1936, juntamente com Adelpha de Figueiredo, no Mackenzie College, organizando o curso de Biblioteconomia do Departamento de Cultura.
Eles desenvolveram, assim, ideias que influenciaram a formação e a profissionalização dos bibliotecários no Brasil, moldaram os serviços de documentação e acervos de São Paulo, criaram a Associação Paulista de Bibliotecários, o curso de Biblioteconomia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo que, posteriormente, deu origem ao curso de Biblioteconomia e de pós-graduação em Ciência da Informação na USP e da organização do Sistema Integrado de Bibliotecas.
O terceiro módulo se apoia na experiência e desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação para questionar o visitante sobre como será a biblioteca do futuro. Mais do que convocá-lo a um exercício de futurologia, pretende-se mostrar as interfaces dessa biblioteca a ser criada com a biblioteca que já existe no presente, porque a biblioteca do futuro será sempre a biblioteca do imaginário social sobre as tecnologias disponíveis em uma dada época, desde os visionários do século XVI até nossos dias.
O visitante poderá assistir a entrevistas com ex-alunos da USP — Fernando Henrique Cardoso, Flávio Fava de Moraes, Ruy Laurenti, Marcelo Tas, Mayana Zatz e Demi Getscko — que dão seus depoimentos sobre o mundo do conhecimento, dos livros, das atuais bibliotecas e as que estão por vir.
Há, ainda, um vídeo sobre o processo de digitalização de obras raras, feito com base na Oficina de Digitalização montada pelas equipes do SIBi e da Brasiliana USP.
Portal de Busca Integrada
Em contraponto a um tradicional catálogo de fichas (modelo de recuperação da informação utilizado pelas bibliotecas), a exposição contará com equipamentos para consulta ao Portal de Busca Integrada de conteúdos científicos, que será lançado especialmente nesta ocasião, recorrendo ao que de mais inovador e sofisticado está disponível no mercado, os discovery systems (sistemas de descoberta).
Serão seis computadores com telas touch screen, que permitirão o acesso a mais de dois milhões de livros, 10 mil títulos de periódicos eletrônicos, 100 mil teses defendidas na USP, 594 mil itens de produção USP e 264 mil e-books.
Ao longo da exposição, ícones QRCode oferecerão outras dicas de pesquisa em bases de dados e materiais disponíveis para os visitantes. Visitantes com baixa visão, dislexos, cegos e surdos cegos poderão recorrer a computadores preparados para leitura em braille e áudio dos textos referente aos painéis e acompanharam os vídeos também por legenda.
Ao final, o catálogo bilíngüe (português e inglês) da exposição em versão impressa e áudio-livros estarão disponíveis on-line. Será possível ainda download do texto tanto em formato PDF como dos áudio-livros em qualquer um dos dois idiomas.
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(Fotos: Anderson de Santana)