Novos professores titulares da USP debatem o futuro da Universidade

Encontro destacou o papel de liderança dos docentes e sua atuação em diversos âmbitos da vida universitária

 17/05/2024 - Publicado há 1 mês     Atualizado: 20/05/2024 as 15:49

Texto: Michel Sitnik

Arte: Jornal da USP

Novos professores titulares participaram do encontro no Conselho Universitário e debateram o futuro da Universidade – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A USP promoveu nesta quinta-feira, dia 16 de maio, um encontro reunindo seus professores titulares nomeados entre 25 de janeiro de 2022 e 25 de janeiro de 2023. Foram, ao todo, 184 docentes integrados ao quadro de titulares neste período.

Eles participaram do evento Novos professores titulares da Universidade de São Paulo:  protagonismo e perspectivas futuras, que teve como proposta promover a discussão e a reflexão sobre o papel destes professores como lideranças acadêmicas, científicas e políticas para a USP do futuro. 

Os professores titulares são docentes que ocupam o terceiro e último degrau na carreira docente da Universidade, após a passagem pelos níveis de professor doutor e professor associado. Por esta razão, são considerados um grupo estratégico na gestão, já que representam uma categoria mais experiente e mais participativa nos processos decisórios e administrativos. 

O chefe de Gabinete da Reitoria, Arlindo Philippi Junior, abriu a reunião e apresentou índices de perfil dos novos titulares e algumas curiosidades, como a distribuição por campus e a faixa etária dos novos integrantes deste quadro. Neste quesito, destacou que 22% estão na faixa de 42 a 49 anos, 43% têm entre 50 e 59 anos e 35% estão acima dos 60 anos. A maioria, cerca de 65%, ainda é masculina, apesar de pequeno aumento de titulares mulheres em relação ao quadro anterior, que era de 30% e agora chega aos 35%. 

Uma das coordenadoras do encontro, Célia Regina da Silva Garcia, que é professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), complementou as boas-vindas, destacando como a chegada a este degrau na carreira traz uma mistura de sentimentos: “É uma fase de celebração mas, ao mesmo tempo, de reflexão. Trata-se de um momento significativo na carreira de um docente, porque ser nomeado titular tem um sentido profundo, que mescla sentimentos de orgulho e de extrema responsabilidade. A USP é um dos maiores patrimônios de educação e pesquisa que este País tem e, hoje, vamos refletir sobre o protagonismo que precisamos ter nas mudanças que ocorrerão na USP com essas novas lideranças, que terão que assumir o desafio de fazer as universidades atenderem às demandas da população e contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade melhor por meio do conhecimento”. 

O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, reafirmou o caráter de liderança desses professores: “Quando vocês participaram de seus concursos de titularidade, com certeza, esclareceram vários aspectos de seus currículos e de suas produções, ou mesmo de planos para seus departamentos e unidades. Agora é a hora de termos a discussão a respeito de como vocês, na figura de gestores, irão conduzir a Universidade. É muito provável que aqui, neste grupo, a gente tenha um futuro reitor e futuros pró-reitores. Então, é hora de já pensar quais serão os próximos passos da USP nos próximos anos. Mas este encontro não se restringe a um planejamento futuro. Ele foi formatado para que também, no dia de hoje, surjam propostas que possamos incorporar ainda na atual gestão. Entre os grandes desafios, podemos destacar a desburocratização, a digitalização inteligente e a redução da duração das pós-graduações, de modo a favorecer a entrada de docentes mais jovens na carreira”, pontuou. 

Carlotti destacou, ainda, experiências recentes que têm apontado para bons resultados: “Já criamos sete centros de estudos que são interdisciplinares, o que é muito importante porque são realmente abertos a todos em uma nova forma de organizar nossas pesquisas. Esta configuração ajuda a identificar lideranças de forma mais coesa e menos dispersa. Os centros da USP têm sido reconhecidos por diversas instituições internacionais com as quais estamos dialogando. Ao mesmo tempo, temos trazido para dentro da USP laboratórios internacionais, como o Institut Pasteur, recém-inaugurado pelo presidente francês Emmanuel Macron, e o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS). Já que não conseguimos enviar 90 mil alunos para o exterior, estamos viabilizando que eles frequentem estes ambientes aqui em nossos campi”.

Evento contou com apresentação artística do Grupo Azul do Coralusp - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Já para a vice-reitora, Maria Arminda do Nascimento Arruda, é importante ter clareza em relação ao amanhã: “Em um evento que está refletindo sobre o papel dos professores titulares na USP do futuro, é interessante percebermos o que é este futuro e como este conceito mudou. Em outras épocas, o futuro era tido como algo ligado à incerteza ou ao próprio acaso, mas, hoje em dia, trabalhamos com a possibilidade de projetar e planejar o futuro, e isso é uma mudança de cultura muito significativa do mundo contemporâneo”. 

Maria Arminda ressaltou o papel que os professores no topo de carreira têm para fora da própria Universidade: “Historicamente, tivemos, na academia, os grandes pensadores sobre este País e sobre o projeto de Brasil, em um papel central que a universidade precisa retomar e assumir essa responsabilidade em um momento de desvalorização da ciência e de tentativas de sufocamento das instituições científicas”.

Debate com convidados

No período da manhã, a programação foi composta pela conferência O papel de liderança do Professor Titular na Universidade no atual contexto: prioridades e indicadores.

O conferencista Luiz Davidovich, que presidiu a Academia Brasileira de Ciências (ABC) por duas gestões e é professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentou considerações a respeito do papel de liderança que os professores titulares devem ter não apenas na universidade, mas na ciência e na cultura do País, com reflexões e propostas. 

Para ilustrar seu ponto de vista, Davidovich utilizou a metáfora de Janus: “Trata-se do deus romano de todos os começos, das transições, das escolhas e das passagens. Ele vê o passado e o futuro; então, são as duas faces, em que se planeja o futuro, mas sem desconsiderar a experiência do passado. É por isso que o pensamento crítico é instrumento indispensável, até mesmo a essência da universidade e do próprio País”. 

O palestrante falou sobre a importância da interação entre o conhecimento acadêmico e a sociedade: “Faltam, hoje, pessoas no Brasil que apresentem um pensamento com ‘p’ maiúsculo, como já tivemos, pessoas que pensavam e expandiam seus conhecimentos para a sociedade. Faço esse chamado para lembrar que o pensamento não é algo enclausurado. Ele precisa necessariamente se relacionar com a sociedade. A ciência pode oferecer as respostas e as soluções para os grandes desafios da humanidade, que hoje são muitos, como a questão das cidades sustentáveis, as mudanças climáticas, a devastação dos biomas, a inteligência artificial, nanotecnologia, a desigualdade social ou a poluição do ar que, sozinha, mata mais de 5 milhões de pessoas por ano. Como as universidades podem enfrentar esses desafios? Em tempos de negação da ciência, muita gente despreza e difama as universidades sem enxergar o que a ciência já fez pelo Brasil, com ganhos na indústria, nas empresas, na agricultura, na área militar, nos bancos e vários outros setores. Mas sabemos que não adianta só olhar para o passado. Temos que olhar criticamente para nós mesmos e buscar a modernização para que continuemos conectados ao mundo real e às demandas da sociedade”.  

(Da esquerda para a direita) Luiz Davidovich, Carlos Gilberto Carlotti Junior, Maria Luiza Moretti e Maysa Furlan na conferência realizada para os novos professores titulares da USP, realizada na sala do Conselho Universitário - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A debatedora Maysa Furlan, vice-reitora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), comentou a importância do conceito de pensamento transformador: “Ao posicionarmos nosso pensamento entre passado e futuro, podemos imaginar como nos colocaremos em contextos inovadores e diante das questões que estão sendo discutidas no mundo”. 

Maysa apontou como as universidades paulistas vêm se posicionando ao longo dos anos e a importância de se aproximar da sociedade: “O sistema paulista de universidades vem participando, desde os anos 2000, de um forte movimento pela renovação dos conceitos universitários, especialmente com o Plano Diretor do Ensino Superior Paulista, um documento feito em 2005, que projetava o futuro acadêmico e de ciência e tecnologia do Estado de São Paulo a longo prazo e que já discutia uma graduação com novas perspectivas, a descentralização, cursos com diferenciais importantes e uma busca por trazer novos saberes para as nossas universidades. Nós temos líderes do presente e do futuro que terão que manter a luta pela autonomia universitária, o que passa pelo papel da comunicação para atacar problemas como a baixa procura em alguns cursos ou o reconhecimento do papel e da atuação da universidade pública”. 

Fechando o debate, Maria Luiza Moretti, vice-reitora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembrou que os desafios que se colocam para a USP são comuns às universidades públicas. “O que nós gostaríamos era de poder crescer muito em número de vagas de graduação, porque ainda são poucos os profissionais formados por instituições de qualidade. Cerca de 85% das pessoas estão sendo formadas em escolas particulares que, em grande parte, deixam muito a desejar em qualidade. Precisamos abrir vagas para formar bons profissionais nas faculdades públicas”. 

Ela ressaltou o papel do relacionamento com a população: “O diálogo com a sociedade é um grande desafio para nós. Diariamente vemos que estudantes da escola pública seguem desconhecendo a Unicamp, seu caráter público e gratuito, suas políticas de ingresso. Além disso, temos índices de evasão que acabam representando um custo para a sociedade. Tudo isso pode ser objeto de um trabalho de melhoria na comunicação com a sociedade e na área de extensão, que não significa só promover cursos, mas se relacionar com o que está acontecendo no mundo, inclusive no contexto corporativo, da inovação, das startups e das novas empresas do País”.

Grupos de trabalho

Na parte da tarde, após uma apresentação cultural do Coralusp, os participantes se dividiram em dez grupos de trabalho (GTs) para discutir diferentes aspectos do tema “Perspectivas de Futuro da USP”, como Graduação; Pós-Graduação; Pesquisa; Inovação; Cultura; Extensão; Internacionalização; Gestão; Inclusão e Pertencimento; e Comunicação. 


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