Uma cerimônia realizada no dia 8 de outubro, no auditório do complexo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, no campus da USP no Butantã, marcou a posse da ex-ministra da Justiça da França, Christiane Taubira, como titular da Cátedra José Bonifácio da USP. A nova catedrática substitui o intelectual português Álvaro de Vasconcelos. O evento contou com a presença de autoridades diplomáticas, dirigentes da Universidade e estudantes que participaram das atividades da cátedra durante este ano.
Economista de formação, Christiane é natural da Guiana Francesa, dividindo seu tempo entre Paris, Caiena e em atividades ao redor do mundo, especialmente no continente africano. Foi ministra da Justiça da França de 2012 a 2016, no governo do presidente François Hollande.
Com extensa trajetória na vida pública francesa, entre outras funções que exerceu, foi deputada na Assembleia da República Francesa, de 1993 a 2012; deputada no Parlamento Europeu, de 1994 e 1999; e conselheira regional da Guiana, de 2010 a 2012. A luta contra o racismo marca a atuação política da ex-ministra. Entre suas conquistas, está a lei que reconhece o tráfico e a escravidão como crimes contra a humanidade na França e que ficou conhecida como Lei Taubira. Além de ter atuado diretamente na aprovação da lei que leva o seu sobrenome, ela colaborou na promulgação, em 2013, da legislação que estende o direito ao casamento a casais homoafetivos na França.
Projeto audacioso
O diretor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) e coordenador do Centro Ibero-Americano (Ciba) da USP, que administra a iniciativa, Pedro Dallari, deu início ao encontro falando sobre a história de criação e os objetivos da cátedra, sobre a atuação de Vasconcelos e sobre a nova catedrática.
“Tem havido um empenho da Universidade no engajamento da instituição para o desenvolvimento de políticas públicas para a solução de problemas sociais. O livro Europa e América Latina: a Convergência Necessária, obra coletiva coordenada pelo catedrático Álvaro Vasconcelos, que lançamos hoje, apresenta as contribuições da USP para a reflexão em torno da Cúpula do G20 [Cúpula de Líderes do G20, que será realizada em novembro, no Rio de Janeiro]. Em outubro do próximo ano, deveremos lançar o livro coordenado por Christiane Taubira, que representará uma contribuição da Universidade para os debates relacionados à COP 30 [30ª Conferência da ONU Sobre Mudanças Climáticas, que será realizada na cidade de Belém do Pará, em novembro de 2025]”, destacou Dallari.
A vice-reitora da Universidade, Maria Arminda do Nascimento Arruda, que fez a saudação à nova catedrática, também ressaltou a importância da participação da Universidade no debate sobre a governança global e considerou como “audacioso” o projeto acadêmico relacionado à reflexão social da realidade da Amazônia que Christiane desenvolverá durante o ano em que estará à frente da cátedra.
A pesquisa que será coordenada por Christiane com os pesquisadores da USP terá como tema Sociedades Amazônicas: realidades plurais, um destino comum? Em seu discurso, a ex-ministra explicou que o estudo se baseia na concepção da Amazônia como um espaço vivo, e não mera paisagem, em que coexistem e devem ser considerados quatro níveis de integração: as comunidades locais, os Estados nacionais, o espaço político de integração multilateral regional e a dimensão de interesse universal.
O reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior falou sobre a importância da pesquisa da nova catedrática sobre a diversidade relacionada à Amazônia, e a necessidade de uma ação real de proteção à população local. Por fim, expressou a vontade de que os trabalhos da cátedra, durante este ano, contem com a participação de estudantes de pós-graduação da Guiana Francesa e do Pará e que o lançamento do livro seja feito durante a COP 30.
A Cátedra José Bonifácio
Criada em 2013, a Cátedra José Bonifácio homenageia um importante personagem da história do Brasil. Também conhecido como “o patriarca da Independência”, José Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em 1763 e foi um notável pesquisador, escritor e homem público. Como cientista, chegou a descobrir novos minerais, enquanto no campo político foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823.
Sua imagem ilustra a intenção de integrar a experiência de lideranças sociais aos processos educacionais e de pesquisa do ambiente universitário. Assim, a iniciativa busca estimular a geração e a disseminação de conhecimento sobre a Ibero-América, sempre por meio da participação rotativa de uma figura pública da região, ligada ao ambiente universitário e de relevo internacional, que durante um ano lidera um grupo de investigadores para promover reflexões e debates acerca da área em que atua.
Gerida pelo Centro Ibero-Americano (Ciba), a ação está vinculada à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) e ao Instituto de Relações Internacionais (IRI) e conta com o apoio do Santander Universidades. A coleção completa dos livros produzidos pela cátedra está disponível no portal Livros Abertos da Editora da USP (Edusp).
Assista, a seguir, à íntegra da cerimônia: