“As novas gerações precisam saber disso”

Palavras do reitor da USP, Vahan Agopyan, no lançamento da nova edição do livro sobre a Universidade na ditadura militar

 11/12/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 18/12/2018 às 11:30
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O lançamento do livro O Controle Ideológico na USP (1964-1978), no dia 11 de dezembro, na Reitoria – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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“As novas gerações precisam saber disso.”

Foi o que disse o reitor da USP, professor Vahan Agopyan, durante o lançamento da terceira edição de O Controle Ideológico na USP (1964-1978), realizado nesta terça-feira, dia 11, na Reitoria da Universidade, na Cidade Universitária. O reitor se referia ao conteúdo do livro, que expõe as delações, perseguições e prisões de professores, estudantes e funcionários da USP ocorridas entre 1964 e 1978, durante a ditadura militar (1964-1985). O evento contou com a presença do presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), professor Rodrigo Ricupero,  do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que assina a apresentação do livro. A edição é da Editora da USP (Edusp).

Com 144 páginas, a nova edição traz também um prefácio do reitor. “Este livro não é apenas uma denúncia como também é um alerta para que a comunidade esteja sempre atenta, lembrando que podemos ter também ataques internos à nossa missão e ao nosso compromisso”, escreve Vahan Agopyan. Na apresentação, Ricupero acrescenta que a obra deve ser considerada “um importante elo da memória e da trajetória histórica da categoria docente” da Universidade.

Lançado originalmente em 1978 pela Adusp, e reeditado em 2004, o livro retrata um dos períodos mais obscuros da história da USP, desde os anos que antecederam o golpe militar de 1964 até o fim dos anos 70. Segundo a publicação, a gestão do reitor Antonio Barros de Ulhôa Cintra, entre 1960 e 1963, foi caracterizada pela tentativa de modernizar a Universidade, até então organizada como uma confederação de unidades independentes e antagônicas, dominadas pelas chamadas “grandes escolas” – a Faculdade de Direito, a Faculdade de Medicina e a Escola Politécnica. “Durante sua gestão, o professor Ulhôa Cintra, contando com o apoio dos setores mais progressistas das diferentes faculdades, procurou promover uma nova concepção de Universidade, tentando instituir um planejamento global, incentivando a pesquisa básica, até então sacrificada pelos interesses de profissionalização, e concretizando os planos da construção da Cidade Universitária.”

O professor Rodrigo Ricupero, o vice-reitor Antonio Carlos Hernandes e o reitor Vahan Agopyan – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Em 1963, o novo reitor eleito, professor Luís Antônio Gama e Silva, teve o apoio dos docentes adeptos daquela concepção de universidade defendida por Ulhôa Cintra. Porém, o golpe militar de 31 de março de 1964 alterou a situação. Gama e Silva dispensou o apoio desses professores e passou a atuar como um porta-voz do regime militar na Universidade. “Certamente não por coincidência, o mecanismo repressivo que se abate sobre a Universidade tem como alvo favorito o grupo renovador da Universidade e obtém, como resultado, seu esfacelamento.”

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Ainda de acordo com o livro, do ponto de vista da integridade da USP, a ação mais grave se refere ao estabelecimento de um mecanismo interno de “caça às bruxas”, reunindo, na própria Universidade, um grupo ligado diretamente aos órgãos de segurança que estava incumbido de realizar um “expurgo”, feito sob medida para permitir aos setores conservadores o monopólio do poder. Gama e Silva nomeou uma comissão especial – mantida sob sigilo e desconhecida até pelo Conselho Universitário – para investigar atividades “subversivas” na Universidade. Essa comissão concluiu seus trabalhos sugerindo a suspensão dos direitos políticos de 52 pessoas, das quais 44 professores.

A análise dessa lista, continua o livro, deixa claro que as acusações não atingem apenas professores considerados “de esquerda”, mas também aqueles que eram favoráveis ao novo modelo de Universidade proposto por Ulhôa Cintra, que atingia interesses de docentes contrários às mudanças. Não por acaso, a Faculdade de Medicina foi a mais duramente atingida pelos “expurgos”. Era ali que se concentrava o núcleo de docentes que apoiava a política de renovação da Universidade. “É justamente nessa faculdade onde o processo de polarização política interna se manifestou com maior intensidade, opondo ferozmente renovadores e tradicionalistas.”

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