Professor da USP recebe prêmio que valoriza pesquisadores negros na Física

Jovem docente do Instituto de Física recebe Prêmio Anselmo Salles Paschoa, da Sociedade Brasileira de Física

 Publicado: 29/07/2024
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Dentre os 115 professores do Instituto de Física (IF) da USP, apenas seis se autodeclaram pretos ou pardos – Foto: IFSP 

Neilo Trindade, professor do Instituto de Física (IF) da USP, é um jovem doutor de 39 anos agraciado com o Prêmio Anselmo Salles Paschoa – 2024, da Sociedade Brasileira de Física. Esse prêmio busca valorizar e dar visibilidade a pessoas negras que realizam pesquisa de excelência nas diferentes áreas da física. O reconhecimento é uma forma de diminuir a sub-representação e a desigualdade racial na comunidade científica. 

De acordo com o Anuário Estatístico da USP, dentre os 5.151 professores da USP, apenas 121 se autodeclaram pretos ou pardos. No Instituto de Física, dos 115 professores, apenas seis se autodeclaram pretos ou pardos. 

Natural de Taquarituba, no interior de São Paulo, Trindade ingressou no curso de Licenciatura em Física na Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2003, no campus Bauru. 

Neilo Trindade – Foto: ResearchGate

Um dos fatores que levaram o pesquisador a escolher a área de exatas foi a influência da sua professora de física no ensino médio. “Eu gostava e me dava relativamente bem nas matérias de exatas. E um segundo aspecto é que minha professora de física no ensino médio era muito boa. Ela me incentivou bastante a seguir a carreira de professor de física. Foi uma motivação também”, afirmou Neilo Trindade em entrevista ao Jornal da USP.

Em suas pesquisas, Trindade dedica-se ao estudo de materiais dosimétricos, naturais e sintéticos, importantes na determinação precisa da dose de irradiação em diversos contextos, incluindo aplicações médicas e tecnológicas. Utilizando técnicas de luminescência, especialmente Termoluminescência (TL) e Luminescência Opticamente Estimulada (OSL), seus projetos abrangem o estudo de minerais brasileiros e a síntese de detectores cerâmicos para dosimetria das radiações. 

Ele também desenvolve e caracteriza pastilhas que combinam minerais com polímeros fluorados, criando detectores de radiação finos, flexíveis e resistentes. Recentemente, tem caracterizado minerais simulantes aos encontrados na Lua e em Marte, e implantou o Laboratório de Sínteses e Desenvolvimento de Detectores, localizado no bloco F (prédio da Dosimetria, no IF).

Apesar de jovem, o pesquisador já realizou importantes projetos acadêmicos, com mais de 30 artigos científicos, passando dos 100 resumos publicados, além de mais de 30 apresentações em congressos e quatro orientações de mestrado concluídas. Trindade também tem coordenado projetos financiados por agências como Fapesp e CNPq, é bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 2 e avaliador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.

Trajetória pela Física

Durante seu mestrado no Programa de Ciência e Tecnologia dos Materiais (POSMAT) da Unesp, Trindade investigou propriedades ópticas e elétricas da pedra preciosa alexandrita e foi representante discente no Conselho do POSMAT. No doutorado, concluído em 2015,  focou em semicondutores, especificamente em ZnO e ZnO:Al – Óxido de Zinco, um composto químico encontrado naturalmente no mineral zincita. Realizou dois pós-doutoramentos: o primeiro no IF, supervisionado pela professora Elisabeth Mateus Yoshimura, com foco em materiais dosimétricos; e o segundo na Clemson University (EUA), sob a supervisão do professor Luiz G. Jacobsohn, trabalhando com detectores naturais e sintéticos.

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O pesquisador iniciou sua carreira docente no ensino superior lecionando na Unesp em Bauru. Também atuou como professor efetivo de Física no ensino médio estadual e em faculdades particulares. Foi professor substituto de Física na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e na Unesp/Sorocaba. Em 2016, tornou-se professor do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), onde permaneceu até 2022, quando foi aprovado como professor do Instituto de Física (IF) da USP.

Em 2020, Trindade e seus alunos da Licenciatura em Física do IFSP, Matheus Cavalcanti e Maicon Gois, descobriram um sensor de radiação ultravioleta (UV). O estudo foi publicado no Journal of Luminescence e repercutido em sites internacionais como o EurekAlert! Physis.org, News medical, entre outros.

A indicação de Trindade ao prêmio foi feita pela professora Susana Lalic, da Universidade Federal do Sergipe (UFS), com cartas de recomendação da professora Roseli Kunzel (Universidade Federal de São Paulo) e dos professores Ronaldo Silva (UFS) e Luiz Jacobsohn (Clemson University – EUA), que também foi aluno do professor Anselmo Salles Paschoa.

Trindade, como um exemplo de representatividade, incentiva jovens negros a seguirem carreira científica. “Apesar de sermos minoria, a mensagem que eu posso deixar é que acreditem no seu potencial. Nosso caminho é mais difícil e mais trabalhoso em geral, mas é muito gratificante quando você vê que há um reconhecimento deste esforço. Então é esta mensagem que eu deixo. Acreditem em vocês!”, destaca o pesquisador.

* Com texto do IF e informações do IFSP; editado por José Adryan


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