*Com informações da Assessoria de Comunicação da FFLCH
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Kabengele Munanga será homenageado com título de Professor Emérito na USP
Munanga receberá o título pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH); o docente tem contribuições importantes nos debates sobre identidade, políticas afirmativas e racismo
Kabengele Munanga no concurso para professor titular da USP, 2000 - Foto: Arquivo Pessoal da família
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP vai homenagear o antropólogo Kabengele Munanga com o título de Professor Emérito. A cerimônia de outorga do título será no dia 2 de junho, às 14 horas, na sala do Conselho Universitário da USP. A homenagem será feita por Lilia Moritz Schwarcz e Guilherme Moura Fagundes, ambos professores do Departamento de Antropologia da FFLCH, o mesmo onde Munanga trabalhou por três décadas.
O professor Kabengele Munanga faz parte de uma geração de intelectuais negros que inclui nomes como Milton Santos, Lélia Gonzalez e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. Autor de mais de 150 publicações, Munanga trabalha temas como racismo, políticas e discursos antirracistas, negritude, identidade negra versus identidade nacional, multiculturalismo e educação das relações étnico-raciais. Será o segundo docente negro celebrado como Professor Emérito da FFLCH – o primeiro foi Milton Santos, que foi professor titular do Departamento de Geografia da faculdade.
Entre as várias contribuições acadêmicas e militantes do professor Munanga estão seus estudos sobre as relações raciais no Brasil e sua participação nos debates para a construção das políticas afirmativas nas universidades, incluindo sua defesa do sistema de cotas no Supremo Tribunal Federal. Seu livro Negritude: Usos e Sentidos, publicado originalmente em 1985, é considerado uma referência importante tanto pela academia quanto pelo movimento negro. O livro de sua organização Superando o Racismo na Escola, publicado em 1999 pelo Ministério da Educação, foi o primeiro a introduzir a questão racial nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
“Kabengele Munanga teve sua vida marcada pela luta contra a opressão racial e pela conquista de direitos dos negros no Brasil. Sua atuação, num país em que o racismo estrutural nos envergonha até hoje, merece destaque”, enfatizou o professor Heitor Frúgoli Jr., do Departamento de Antropologia, ao serviço de comunicação da FFLCH.
Capa do livro Negritudes, de Kabengele Munanga - Foto: Divulgação
Conheça a trajetória de Kabengele Munanga
Nascido na República Democrática do Congo e naturalizado brasileiro, Munanga iniciou sua carreira acadêmica como professor assistente na Universidade Oficial do Congo, onde atuou de 1969 a 1975. Começou seus estudos de pós-graduação na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, com uma bolsa de estudos do governo belga. Ficou na Bélgica entre 1969 e 1971, tendo nesse período atuado também como pesquisador no Museu Real da África Central em Tervuren, em Bruxelas, e se especializado no estudo das artes africanas tradicionais. Retornou ao Congo em 1971 para fazer um trabalho de campo. No entanto, a instalação da ditadura de Mobutu Sese Seko inviabilizou a conclusão de sua pós-graduação no país.
Livro celebra trajetória acadêmica e militante do professor Kabengele Munanga
Kabengele Munanga é referência para uma geração de docentes negros e negras que disputa os rumos da educação brasileira
A convite do professor Fernando Mourão, então diretor do Centro de Estudos Africanos da USP, Kabengele Munanga veio ao Brasil para concluir seu doutorado. Chegou a São Paulo em julho de 1975 com uma bolsa de dois anos oferecida pela USP para estudantes africanos. Intitulada Os Basanga de Shaba, Um Grupo Étnico do Zaire, Ensaio de Antropologia Geral, sua tese de doutorado foi publicada em 1986 pela FFLCH.
O antropólogo se tornou professor da FFLCH em 1980 e lá lecionou até 2012, tendo como foco principal as áreas de Antropologia da África e da População Afro-Brasileira. Também foi diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP entre 1983 e 1989, vice-diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP entre 2002 e 2006, e diretor do Centro de Estudos Africanos entre 2006 e 2010. Ao longo de mais de 30 anos de carreira na USP, lutou ativamente pela implementação do sistema de cotas na Universidade. Atualmente, é professor sênior no Centro de Estudos Africanos da FFLCH.
Kabengele Munanga também foi professor na Universidade de Montreal, no Canadá, professor visitante na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na Universidade Cândido Mendes, na Escola de Sociologia e Política de São Paulo e na Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique. Na UFRB, presidiu a comissão que forneceu as bases para a pioneira Comissão de Heteroidentificação da Universidade.
Recebeu inúmeros prêmios e títulos honoríficos, entre os quais a Comenda da Ordem do Mérito Cultural; o Grau de Oficial da Ordem do Rio Branco; o Prêmio Benedicto Galvão, da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP); o Troféu Raça Negra, pelo Afro-Brás e Faculdade Zumbi dos Palmares; o Prêmio de Direitos Humanos USP 2017; o título de Cidadão Baiano pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia. Também foi homenageado pela Associação dos Docentes da USP (Adusp) por sua contribuição à superação das desigualdades raciais no Brasil e como Decano em Estudos Antropológicos pelo Departamento de Antropologia da USP. Mais recentemente, recebeu em 2020 a Medalha Roquette Pinto, outorgada pela Associação Brasileira de Antropologia, e em 2021 o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Serviço
Cerimônia de outorga do título de Professor Emérito ao professor Kabengele Munanga
Dia 2 de junho de 2023, às 14h
Local: Sala do Conselho Universitário – Rua da Reitoria, 374, Cidade Universitária, São Paulo
Transmissão pelo canal da FFLCH no YouTube: https://www.youtube.com/@uspfflch
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