Graduada em Serviço Social, Taiza trabalhou por muitos anos em serviços de assistência social. Em 2012, quando estava na triagem do serviço de uma organização não governamental que oferecia atendimento psicológico a crianças e adolescentes, Taiza se deparou com o caso de uma menina que tinha mudado drasticamente de comportamento devido ao bullying que sofria na escola. Até então uma boa aluna, a menina viu suas notas caíram e ela passou a se automutilar. A direção da escola, então, orientou a família a buscar apoio psicológico para a criança.
Esse caso fez Taiza se interrogar sobre os efeitos do bullying sobre a saúde das crianças e adolescentes e as estratégias de prevenção a esse tipo de violência. Foi assim que começou sua jornada acadêmica sobre o tema, primeiro em um curso de especialização; depois no mestrado e no doutorado, todos na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); e, mais recentemente, atuando como professora substituta no curso de Serviço Social da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Foi só depois que eu fiz esse caminho de volta e entendi que o tema me interessava, porque eu fui uma criança vítima de bullying”, reflete Taiza, que atualmente desenvolve sua pesquisa de pós-doutorado no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina (FM) da USP, sob a supervisão da professora Maria Fernanda Tourinho Peres.
O bullying é uma prática de violência sistemática cometida entre crianças e adolescentes, que tem intencionalidade e causa danos aos envolvidos – tanto às vítimas quanto aos perpetradores e testemunhas. Taiza defende que o cyberbullying é um fenômeno diferente, pois a violência na internet tem uma audiência muito maior, não está restrita a um círculo próximo de crianças e adolescentes que se conhecem pessoalmente e traz um grave potencial de revitimização, pois pode ser reproduzida em diferentes plataformas, inclusive por desconhecidos. Desde o início deste ano, com a sanção da Lei 14.811/2024, o bullying e o cyberbullying são tipificados como crimes no Brasil.
No pós-doutorado, Taiza analisa estratégias de prevenção ao bullying, cyberbullying e violência nas escolas em diferentes Estados e cidades brasileiras. Seu projeto de pesquisa tem duas frentes. Em uma delas, a pesquisadora está mapeando que estratégias de prevenção a esses tipos de violência estão presentes nos planos de segurança pública e nas políticas de educação dos Estados brasileiros e de municípios que tiveram experiências de ataques em escolas. Um dos principais objetivos é levantar os tipos de ações intersetoriais que esses documentos propõem. Na outra frente de pesquisa, Taiza pretende entrevistar assistentes sociais em grupos focais para entender se e como a experiência destes profissionais têm sido aproveitada nas ações de combate ao bullying e à violência nas escolas.
“O que eu tenho começado a ver um pouco desses meus resultados é que boa parte dos planos até menciona fazer ações com outros setores, mas não deixa claro que setores são esses. E geralmente quando deixa muito específico, fala muito mais dessa dualidade, dessa relação entre a educação e a própria segurança pública. Como, por exemplo, essa coisa da ronda escolar, de fazer palestras para promover cultura de paz no ambiente das escolas. E aí a gente começa a pensar um pouco o quanto que seria importante, quando se pensa a revisão desses planos, considerar as outras políticas públicas”, diz Taiza, lembrando que desde 2019 existe uma lei federal que prevê a entrada de psicólogos e assistentes sociais nas escolas.
A pesquisadora também tem procurado observar como os planos e políticas que ela analisa consideram as experiências de violência que acontecem na internet. “A gente está falando de sujeitos que são digitais, de nativos digitais, como dizem alguns autores, né? E aí, será que esses planos estão considerando as experiências como cyberbullying, por exemplo, em que a gente tem tido uma crescente?”, questiona Taiza.