A educação especial do campo, indígena e quilombola sofre com a indiferença dos governantes. Além do descaso e assistencialismo com que é tratada, o modelo “urbanocêntrico” da educação especial vigente atrapalha o pleno direito à educação de jovens camponeses, indígenas e quilombolas com deficiência. Para Washington Cesar Shoiti Nozu, professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que estará na USP nesta semana, o relato simboliza bem o descaso do poder público: “O que mais nos atrasam são as porteiras! Às vezes temos que abrir duas ou três porteiras seguidas”.
O relato do motorista sobre as dificuldades no itinerário percorrido entre as residências dos estudantes e a escola foi retirado de um capítulo do livro O Protagonismo da Educação do Campo em Debate – Políticas e Práticas, publicado pela Editora da UFBA, que contou com a participação do professor. “Metaforicamente, as ‘porteiras’ sinalizadas pelo motorista nos remetem às dificuldades e aos empecilhos, físicos e simbólicos, que se interpõem na vida cotidiana das populações camponesas e com deficiência”, salienta Nozu.
Washington Nozu é uma referência nacional em pesquisas sobre a inclusão de estudantes com deficiência. Ele denuncia que os povos do campo, das águas e das florestas e as pessoas com deficiência, diante da omissão do Estado, são atingidos por práticas assistencialistas. São práticas que buscam transformar as noções de dignidade e de direitos fundamentais em tragédia pessoal, favorecimento e vantagens. “No caso específico dos povos do campo, das águas e das florestas e das pessoas com deficiência, evidenciam-se múltiplos marcadores sociais de desigualdade e de exclusão, dentre os quais destacam-se a marcação da diferença biológica (deficiência) e da diferença cultural (lugar de origem), que produzem efeitos na violação e na efetivação do direito à educação”, diz Nozu.
Na segunda-feira (7), às 19h30, o professor da UFGD estará na Faculdade de Educação (FE) da USP para ministrar a palestra Educação especial na educação do campo, indígena e quilombola: desafios políticos e pedagógicos. O encontro tem o objetivo de proporcionar conhecimentos sobre o direito de todos à educação, sem deixar ninguém para trás. Não é preciso se inscrever para participar presencialmente. A palestra também será transmitida pelo Youtube.
De acordo com Rosângela Gavioli Prieto, professora da FE e organizadora da palestra, o evento é uma oportunidade de explorar os fundamentos sobre as modalidades de ensino (educação especial, educação do campo, educação escolar indígena e educação escolar quilombola) e os dados sobre as pesquisas teóricas e de campo desenvolvidas pelo professor Washington Nozu. “Há também o debate sobre a educação especial ser a única modalidade de ensino que deve transversalizar as demais e conferir igualdade de direitos e de condições a estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento/transtorno do espectro autista e altas habilidades ou superdotação, de ingresso, participação, permanência e acesso ao conhecimento escolar”, diz Rosângela.
Para o professor Nozu, é necessário potencializar uma luta permanente junto aos movimentos sociais, tanto para avançar como para não regredir com os direitos fundamentais, com destaque à educação, dos povos do campo, das águas e das florestas e das pessoas com deficiência.
“Nessa direção, tendo em vista a transversalidade da temática no processo de escolarização de camponeses, indígenas e quilombolas com deficiência é necessária uma atenção tanto às necessidades educacionais específicas quanto às diferenças socioculturais desses estudantes”, finaliza o palestrante convidado.
Serviço
Palestra Educação especial na educação do campo, indígena e quilombola: desafios políticos e pedagógicos
Com Washington Nozu, docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFGD
Quando: segunda-feira, 7 de outubro, das 19h30 às 22h
Onde: Auditório da FE (Avenida da Universidade, 308, Cidade Universitária, Butantã – São Paulo – SP), com transmissão pelo Youtube: https://www.youtube.com/live/tEDI4i-YySE
Evento gratuito, sem necessidade de inscrição
Maiores informações com a Seção de Apoio Acadêmico da FE, pelo telefone (11) 3091-3574 ou pelo e-mail apoioacadfe@usp.br