Baixe gratuitamente livro que detalha tombamentos de terreiros paulistas

“Terreiros Tombados em São Paulo – Laudos e Reflexões Sobre a Patrimonialização de Bens Afro-Brasileiros” está disponível em versão e-book no Portal de Livros Abertos da USP

 Publicado: 15/01/2025 às 17:34
Salão do Axé Ilê Obá é decorado com arranjos de flores, estátuas de caboclos, quadros de orixás e um crucifixo cristão. Ao centro, um altar coberto por flores, laços e uma grande coroa.
Salão do Axé Ilê Obá, na zona sul de São Paulo -  Foto: Thiago Dutra Morais/Wikimedia Commons /CC BY-SA 4.0
Salão do Axé Ilê Obá, em São Paulo –  Foto: Thiago Dutra Morais/Wikimedia Commons /CC BY-SA 4.0

O Portal de Livros Abertos da USP disponibiliza para download gratuitamente um livro que detalha os processos de tombamento de sete terreiros de umbanda e candomblé localizados no Estado de São Paulo. Trata-se de Terreiros Tombados em São Paulo – Laudos e Reflexões Sobre a Patrimonialização de Bens Afro-Brasileiros, de autoria de Vagner Gonçalves da Silva, professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Publicado originalmente pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo em 2021, o livro ganhou versão e-book no último semestre. A edição de 2021, impressa, já era de distribuição gratuita. Com a disponibilização do e-book, o trabalho se torna ainda mais acessível. Dividido em nove capítulos, além da Introdução e da Conclusão, o livro apresenta os laudos de tombamento de sete terreiros localizados no Estado de São Paulo, destacando as bases, estratégias e metodologias utilizadas em cada processo.

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Apesar de o Estado de São Paulo ter a maior população negra do País, em números absolutos, por aqui as contribuições de africanos e afrodescendentes à formação da cultura brasileira ainda têm reconhecimento limitado quando o assunto é preservação do patrimônio histórico e cultural. Na comparação com outros estados, como a Bahia, ainda são poucos os bens afro-brasileiros patrimonializados. Um sintoma disso é o fato do primeiro tombamento de um terreiro paulista ter ocorrido em 1990 e os seis tombamentos seguintes, quase 30 anos depois.

O primeiro terreiro tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) do Estado foi o Axé Ilê Obá, terreiro da nação localizado no bairro do Jabaquara, na zona sul de São Paulo. O reconhecimento dos outros seis pela autoridade estadual veio apenas em 2019. São eles:

  • Terreiro de Candomblé Santa Bárbara, na Vila Brasilândia, zona norte da capital;
  • Casa de Culto Dambala Kuere-Rho Bessein, terreiro pioneiro da nação jeje-mahim localizado em Santo André;
  • Ilê Alaketu Asé Ayrá (Axé Batistini), terreiro da nação queto em São Bernardo do Campo;
  • Ilê Olá Omi Asé Opô Aràkà (Axé Alvarenga), comunidade de tradição queto também localizada em São Bernardo do Campo;
  • Ilê Afro-Brasileiro Odé Lorecy, localizado em Embu das Artes, de tradição queto reafricanizada;
  • Santuário Nacional da Umbanda, espaço localizado dentro da Reserva Ecológica da Serra do Mar, no município de Santo André.

O livro registra as narrativas sociais presentes nos laudos de tombamento de cada um desses terreiros e as ações e discussões realizadas em um fórum coletivo que reuniu religiosos, acadêmicos, técnicos do Condephaat e representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para encaminhar decisões consensuais. Lembra, ainda, que as comunidades religiosas afro-paulistas vêm há décadas se mantendo e resistindo contra fatores que desafiam sua reprodução no ambiente urbano: especulação imobiliária, ausência crescente de espaços de culto na natureza, ameaças ao espólio material religioso nos casos de falecimento das lideranças sacerdotais e o recrudescimento da intolerância e racismo religiosos.

Nesse difícil contexto, “uma das estratégias de luta dos terreiros tem sido a inclusão de seus valores civilizatórios entre os bens listados pelos órgãos de patrimonialização do Estado que, devido a um viés eurocêntrico, tendem a não os contemplar”, destaca o autor.

Capa do livro - Imagem: Divulgação
Atualmente, o professor Vagner está trabalhando na organização de uma segunda edição revista e ampliada do livro, com os laudos de novos tombamentos. Ainda não há previsão de quando será publicada.

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