Shakespeare é revisitado em mostra do Cinema da USP

Em cartaz até dia 27, filmes fazem adaptações nada convencionais da obra do dramaturgo inglês

 08/10/2024 - Publicado há 4 meses

Texto: Redação

Desenho com rostos de homem.

Foto: Divulgação/Cinusp

Desde o dia 7 até 27 deste mês, o Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) apresenta a mostra Shakespeare Revisitado, que traz 19 filmes, de diferentes épocas e países, inspirados na obra do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616).

Essas adaptações das peças de Shakespeare para o cinema “são tudo, menos tradicionais”, como destaca o texto de apresentação da mostra, elaborado pelos curadores do evento e publicado no site do Cinusp. De acordo com o texto, nos filmes exibidos, as clássicas narrativas do teatro foram radicalmente reconfiguradas pelos diretores, que deram um passo “bem largo” no exercício de repensar o legado shakespeariano. “Mesmo quase 500 anos depois, o exercício de abordar a obra de Shakespeare como uma tela em branco para a criatividade segue vivo no gênio artístico”, destacam os curadores. “Nas próximas semanas, o Cinusp convida o público a conhecer e reconhecer velhas narrativas numa seleção de obras que provam haver muito mais entre um texto original e sua encenação do que podemos imaginar.”

É o que acontece com um dos mais conhecidos textos atribuídos a Shakespeare, Hamlet. Na mostra do Cinusp, a trama do filho que retorna à casa para vingar a morte do pai é a base de A Herança, de Ozualdo Candeias. O filme transporta a história do escritor inglês para o ambiente rural brasileiro, destacando-se pela forma como valoriza a fotogenia do campo e os sons típicos desse espaço, como o canto dos pássaros e as rodas de viola caipira, como destaca o texto dos curadores. No dia 22, às 19 horas, a exibição desse filme será seguida de debate com a atriz, diretora e pesquisadora de teatro Valéria Marchi.

Ser ou Não Ser, de Ernst Lubitsch, transforma a tragédia shakespeariana numa comédia. “Considerado uma das obras-primas do diretor, o longa faz da peça cenário para uma trama de espionagem durante a Segunda Guerra Mundial, figurando uma sátira que funciona, também, como crítica política.” 

Ainda em referência a Hamlet, haverá uma sessão especial, nesta quinta-feira, dia 10, às 20h30, de O Rei Leão, “clássica animação que desloca as intrigas de poder e vingança dessa tragédia para os leões da savana africana”.

As peças históricas do “Bardo de Avon” – em que o dramaturgo inglês aborda os reinados estabelecidos nas ilhas britânicas – também receberam adaptações nada convencionais para o cinema. “A narrativa do rei Henrique IV, que enfrenta problemas tanto políticos quanto familiares, transforma-se na de Garotos de Programa, de Gus Van Sant, uma das produções mais populares do new queer cinema: aqui, o filho rebelde de um prefeito embarca com seu amigo numa jornada de autodescoberta.” No dia 17, às 19 horas, a apresentação do filme será seguida de debate com o professor John Milton, do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, especialista na obra de Shakespeare.

“Nesse mesmo texto, o príncipe Hal, futuro Henrique V, é acompanhado de seu inseparável parceiro Sir John Falstaff. É sobre essa personagem que se debruça Orson Welles em Falstaff – O Toque da Meia-Noite. No filme, o cineasta encarna a personagem titular e transita entre mais de uma história para trazer à vida o boêmio Falstaff.”

O cineasta japonês Akira Kurosawa encontrou em Macbeth a inspiração para um de seus mais celebrados filmes. “Trono Manchado de Sangue adapta fielmente a trama de intrigas palacianas que constitui a obra original, mas a desloca ao Japão feudal, adicionando ao texto shakespereano elementos culturais tipicamente japoneses, que se manifestam tanto visualmente quanto nas atuações.”

Os sonetos shakespearianos estão na base de Diálogos Angelicais, do britânico Derek Jarman. Nessa adaptação, “o ritmo vagaroso e onírico das imagens desenha momentos de intimidade entre dois homens, narrados por uma sequência de 14 sonetos de amor de Shakespeare”.

Uma sessão dupla, no dia 16, às 16 horas, será dedicada ao cineasta argentino Matías Piñero. Dele serão apresentados Sycorax e Viola, em que Piñero enfoca os papéis femininos nas comédias shakespearianas.

César Deve Morrer, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, mostra um grupo de presidiários de segurança máxima, em Roma, numa produção de Júlio César. “Com uma fotografia que eleva os pátios e corredores da prisão e nos lembra do que foi antes o coração do Império Romano, essa docuficção aproxima a grandeza do dramaturgo às parcelas mais renegadas da população italiana.”

A peça Sonho de Uma Noite de Verão, de Shakespeare, é transformada na espirituosa comédia Sorrisos de Uma Noite de Amor, de Ingmar Bergman. Nela, o cineasta transpõe as tramas e os triângulos amorosos do texto original para a alta sociedade sueca, numa produção anterior aos longas mais austeros e condecorados de sua filmografia.

O amor proibido de Romeu e Julieta inspira o clássico Amor, Sublime Amor –, que conta o trágico destino de dois membros de gangues rivais em Nova York nos anos 1950.

“Um gângster também se vê numa teia de paixões e traições em Omkara, drama indiano que adapta Otelo. Nele, um elenco engajado ajuda a manter o ritmo pujante da peça. O filme será exibido em conjunto com Othello-67, um curta soviético que em um minuto reproduz a tragédia shakespeariana.” Otelo inspira também Ao Despertar da Paixão, longa que, com planos do faroeste estadunidense, acomoda a narrativa aos moldes do gênero western.

O cinema de vanguarda de Peter Greenaway adapta A Tempestade, experimentando com uma combinação de modalidades artísticas justapostas em tela em A Última Tempestade. “Também uma meditação sobre arte e a ideia de ‘autor’, o Rei Lear, de Jean-Luc Godard, trabalha não só com o drama homônimo, mas também com outros textos do bardo, que ajudam a tematizar a busca de um descendente de Shakespeare pela restauração de suas obras após o desastre de Chernobyl.”

No dia 18, a mostra terá uma “batalha” entre dois filmes: 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você (A Megera Domada) e Todos Menos Você (Muito Barulho Por Nada). Durante a mostra, o público terá a chance de votar, através do Instagram do Cinusp, pela exibição de uma dessas comédias românticas. “Ambas brincam com a perspicácia das peças que adaptam e inevitavelmente terminam em uma conciliação apaixonada à la Shakespeare.”

A mostra Shakespeare Revisitado, do Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp), fica em cartaz até 27 de outubro, no Centro Cultural Camargo Guarnieri da USP (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo) e no Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antônia, 294, Vila Buarque, região central de São Paulo, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do metrô). Entrada grátis. Mais informações e a programação completa da mostra estão disponíveis no site do Cinusp.


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