Seis sugestões de leitura para a virada do ano

Contos de um escritor russo pouco conhecido, um técnico campeão de basquete e comoventes histórias familiares são apenas alguns exemplos de livros que merecem ser conhecidos neste período de descanso

 20/12/2024 - Publicado há 3 meses
Seis capas de livros e, ao fundo, uma estante de livros.

Fotomontagem Jornal da USP feita com imagens de ikaika/Freepik e capas dos livros

Ler é sempre uma ótima ideia. Principalmente quando se chega ao final do ano e é necessário descanso  — e um pouco de tranquilidade — para se preparar para o novo ano que se aproxima. Veja abaixo seis sugestões de livros das mais variadas nuances, com temas que certamente chamarão a atenção do leitor.

“Não é só sorte”

Miguel Angelo da Luz e o melhor basquete feminino do mundo, de Luciano Maluly e Marcelo Cardoso. Lis/Com-Arte, 280 p.

Capa de livro com a foto de um homem segurando uma medalha.

O ano de 1994 foi de fortes emoções no esporte brasileiro – para o bem e para o mal. Em maio, morreu Ayrton Senna. Em julho, a seleção se sagrou tetracampeã de futebol nos Estados Unidos. E um mês antes, a “pátria de chuteiras” virou o “país do basquete”. No dia 12 de junho, o Brasil conquistava o inédito título de campeão mundial de basquete feminino na Austrália, com um time em que pontificavam a “rainha” Hortência , “magic” Paula – e o técnico Miguel Angelo da Luz. E é sobre ele que trata esse volume, um profissional que saiu do anonimato na condição de um desconhecido professor de Educação Física para ser eleito o melhor técnico de basquete feminino do mundo. A biografia escrita por  Luciano Maluly – professor da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) –  e pelo jornalista Marcelo Cardoso revela detalhes da campanha vitoriosa de um time que dois anos depois ganharia a medalha de prata nas Olimpíadas de Atlanta, além de mostrar como Miguel Angelo soube aliar a sorte de conviver com atletas talentosas à competência de aproveitar um momento único para criar um grupo forte, determinado e vencedor.

Histórias do meu avô

Ana Lucia Duarte Lanna. Edusp, 184 p.

Capa de livro com várias pequenas fotos que mostram um homem.

Você conhece Mario Pace? Ele nasceu na Itália, era – segundo afirmam na família – alto, bonito, metódico. Foi relojoeiro, lutou na Primeira Guerra Mundial e vivenciou os altos e baixos da vida. Mario Pace era avô da professora e historiadora Ana Lanna, atual pró-reitora de Inclusão e Pertencimento da USP, e é o foco desse seu novo livro. Nele, a autora toma para si o desafio intelectual – e também subjetivo – de transformá-lo em personagem, num “misto de pudor e preservação de afetos”, como aponta Heloisa Ponte na orelha do volume. “O resultado”, continua Heloisa, “é este ensaio pulsante que enreda a história do avô ao país que o acolheu e à cidade onde formou família”. A cidade em questão é Belo Horizonte, que misturava modernismo com passado, uma nova terra escolhida, onde ele vivenciou a perseguição que os italianos sofreram durante a Segunda Guerra Mundial – sua relojoaria chegou a ser destruída. São narrativas saborosas e tocantes, vívidas e ilustrativas, que misturam história com vivência pessoal, tornando esse volume interessante e instigante pelos mais variados prismas.

Aqui vive um amigo dos livros – 100 anos da Biblioteca

 Oliveira Lima, de Ricardo Souza Carvalho. Edusp, 280 p.

Capa de livro com uma foto de um homem sentado, lendo um livro e sendo observado por uma mulher.

O historiador e diplomata pernambucano Manuel de Oliveira Lima (1867-1928) talvez seja pouco conhecido na história oficial do Brasil, mas na história do livro e da bibliofilia ele tem um lugar de honra garantido – mesmo que a biblioteca que amealhou ao longo da vida não esteja em terras brasileiras, mas na Universidade Católica da América, em Washington. A colossal coleção de livros, manuscritos, documentos e obras de arte que Oliveira Lima doou à universidade americana – e que muito justamente leva o seu nome – é algo que merece ser conhecida e ter sua história contada. E é isso que Ricardo Souza de Carvalho, professor de literatura brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP) faz nesse Aqui vive um amigo dos livros, ressaltando a inabalável fidelidade de Oliveira Lima e de Flora, sua mulher e companheira na epopeia livresca, aos livros. “Eles não apenas se dedicaram à construção de uma biblioteca, como também estabeleceram um núcleo sólido para a propagação da cultura ibero-americana”, ressalta na quarta capa do volume Duilia de Mello, vice-reitora de estratégias globais da Universidade Católica da América e diretora executiva da Biblioteca Oliveira Lima.

Heleny Guariba – Destinos cruzados

 Org. José Armando Pereira da Silva. Com-Arte, 304 p.

Capa de livro com uma imagem abstrata.

Este livro reúne uma coletânea de documentos e testemunhos reunidos por José Armando Pereira sobre a paulista de Bebedouro Heleny Guariba, presa e torturada pela ditadura militar em finais dos anos 1960 e cujo corpo nunca foi encontrado. Heleny nasceu em 17 de março de 1941, formou-se em Filosofia e Teatro na USP em 1964, viveu na França, voltou – e mergulhou de cabeça no turbilhão de desmandos e repressão no qual o Brasil havia se transformado a partir de 1968. “Heleny Guariba não era uma pessoa dividida; era uma pessoa inteira; fazia o que pensava e pensava o que fazia”, afirma a atriz Dulce Muniz, em um dos depoimentos constantes no livro em homenagem a Heleny.

Os judeus – A luta de um povo para se tornar uma Nação

 Jaime Pinsky. Ed. Contexto, 256 p.

Capa de livro com foto de um muro antigo.

A história do povo judeu, sua própria sobrevivência e a manutenção de sua identidade não é algo simples de se explicar, principalmente se levarmos em conta o longo histórico de preconceitos, perseguições, segregação e massacres, por exemplo, a que este povo foi submetido. A história fica ainda mais desafiadora quando entendemos o que o povo judeu precisou fazer para formar uma nação, com estrutura jurídica, lingua e cultura próprias. É sobre todos esses temas que trata este novo livro do editor, professor e historiador Jaime Pinsky, doutor e livre-docente da USP e professor titular da Unicamp. O volume explica como se formou o estado nacional judeu, como isso aconteceu, sempre a partir de uma minuciosa pesquisa documental e de uma análise de textos produzidos em diferentes épocas e situações sociais. “A contribuição de Pinsky, gostosa de ler e fácil de entender, é uma obra histórica no melhor sentido da expressão”, escreveu o professor Paul Singer no prefácio desta edição.

Um pequeno engano e outras histórias

Nikolai Leskov. Trad. Noé Oliveira Policarpo Polli. Editora 34, 336 p.

Capa de livro com um desenho que mostra várias pessoas em pé.

Considerado um dos grandes mestres russos da narrativa, ombreando com Dostoiévski – como asseverou Thomas Mann –, Nikolai Leskov (1831-1895) é bem pouco conhecido no Ocidente. Escritor independente em um tempo de divisões políticas e estéticas claras, ele foi incompreendido pela crítica de seu tempo, que não aceitou nada bem o alto nível de experimentalismo que ele empreendia em suas obras, algo nada usual diante da tradição de prosa realista do século 19. Leskov criou uma linguagem literária rica e pitoresca, misturando expressões da língua arcaica e da fala popular, e é isso que o leitor vai encontrar nesta reunião de oito histórias traduzidas por Noé Oliveira Policarpo Polli, professor de língua e literatura russas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP), que também assina um alentado ensaio sobre a obra e a estética de Nikolai Leskov.


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