
O candomblé e o Barroco foram duas frentes de pesquisas do sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974) no Brasil. Essas duas frentes não eram desconectadas, mas se comunicavam. Para o sociólogo francês, o Barroco possuía um sentido ampliado, projetando-se em diferentes ambientes. O candomblé era uma dessas projeções.
Essas análises foram feitas pela socióloga e antropóloga Fernanda Arêas Peixoto no 15º Colóquio Mindlin, que aconteceu no dia 17, terça-feira, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Cidade Universitária. Além de Fernanda, o evento contou com palestra da professora Gloria Carneiro do Amaral, especialista em Literatura Francesa, também sobre Bastide.

Roger Bastide chegou ao Brasil em 1938, como integrante da missão francesa de professores contratados para integrar o corpo docente da USP, então recém-criada. Aqui o sociólogo exerceu o cargo de professor de Sociologia da então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) – hoje Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) – até 1954.
Fernanda ainda destacou a correspondência trocada entre Bastide e o fotógrafo e etnólogo francês Pierre Verger (1902-1996), a que teve acesso. Através dos relatos de Verger sobre sua viagem à África, Bastide teria passado por um processo de conhecimento da cultura africana. Mais tarde, disse Fernanda, quando o próprio sociólogo viajou para a costa africana, ele “reencontrou” o Brasil em terras distantes.
Ao estudar as influências francesas importantes na formação da USP em meados dos anos 1930, Fernanda se deparou com a obra de Bastide, fato que deu início à sua longa pesquisa sobre o sociólogo. Durante a palestra, a socióloga disse que Bastide, durante sua estadia de 16 anos no Brasil, combinou sua formação francesa com outras tradições não conhecidas em seu país de origem. “Aqui, ele estabeleceu um diálogo cerrado com a intelectualidade brasileira”, afirmou.

Depois da palestra de Fernanda, Gloria Amaral conversou com a plateia sobre o Bastide crítico literário. Ela lembrou que Bastide, em contraste com os outros professores franceses que vieram com ele, se interessou vivamente pela cultura brasileira. “Ele foi o indivíduo mais sem preconceitos de que eu já tive conhecimento”, comentou Gloria. Ela começou a estudar o sociólogo durante seu doutorado, sobre poetas brasileiros. Ao pesquisar sobre o poeta Cruz e Sousa (1861-1898), conheceu os quatro estudos de Bastide sobre o precursor do Simbolismo no Brasil. Em sua livre-docência, deparou-se com 270 títulos do sociólogo sobre crítica literária.
Segundo Gloria, o sociólogo possuía interesse pelos poetas de influências africanas e costumava, como metodologia, estudar a biografia deles. “Ele descobriu, no entanto, que todos eles possuíam uma formação branca, isto é, europeia”, acrescentou a professora. Comentou, ainda, que é possível perceber em Bastide uma aspiração à escritura poética e finalizou salientando que, quando ele estudou a literatura brasileira, nunca a colocou como inferior à literatura francesa.