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De 18 a 21 de junho, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo recebe o 4º Salão do Livro Político. Organizado por um conjunto de editoras, em parceria com aquela instituição, o evento conta com feira de livros e mesas de debate. Todas as atividades são gratuitas.
Segundo a organização do salão, o objetivo é dar mais visibilidade e incentivar a demanda por obras políticas, que hoje representam cerca de 2,5% do total de livros publicados anualmente no País. A edição anterior, a primeira com a participação da PUC, reuniu 3,5 mil visitantes. Além da universidade, compõem o grupo organizador as Editoras Boitempo, Autonomia literária, Alameda, Anita Garibaldi, Educ, Elefante, Editora 34, Hedra e Sundermann. A Editora da USP (Edusp) é uma das convidadas da feira, que oferece descontos de até 50% nas publicações. A relação completa das editoras participantes pode ser acessada neste site.

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Reflexões sobre o passado e análises do presente
Docentes da USP estão entre os palestrantes do evento. No dia 19, às 10h30, o professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Fernando Haddad – ex-prefeito de São Paulo – encontra o professor do Instituto de Física da USP e membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo Luis Carlos Menezes. Na ocasião, eles vão discutir as consequências dos recentes acontecimentos políticos para as ciências no Brasil.
No mesmo dia, a professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP Laura Carvalho fala sobre austeridade econômica, crise e eleições, em debate que acontece às 17 horas.
Para falar sobre os 200 anos do nascimento de Karl Marx, completados em maio passado, o salão organiza, também no dia 18, mesa que conta com a presença da professora da FEA Leda Paulani e do professor da FFLCH Jean Tible, às 19h30.

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“Marx sempre disse que o capitalismo era uma grande máquina de aumentar a produtividade do trabalho e de gerar riqueza, mas também de produzir muita miséria”, comenta Leda sobre o legado do pensador alemão. “Hoje, essa previsão é perceptível a olho nu.”
Analisando a realidade brasileira, a professora vê nas medidas adotadas pelo governo pós-2016 a confirmação dos prognósticos desenhados ainda no século 19. “A desigualdade cresceu muito no mundo e no Brasil não é diferente. Sempre tivemos um grau de desigualdade muito elevado, mas houve um momento em que ela estava se reduzindo, por conta do aumento do salário mínimo. Estávamos na contramão. O mundo inteiro passando por processos em que a desigualdade crescia, enquanto o Brasil e outros países da América Latina estavam indo por uma caminho diferente. Agora não. Voltamos rapidamente a ter a cara que sempre tivemos: um país com uma miséria muito grande, muitas famílias abaixo da linha de pobreza, desemprego. Com as políticas de austeridade veio uma série de coisas que brecaram programas que estavam contribuindo para reduzir a desigualdade. Hoje, temos um cenário bem de acordo com o que Marx previu. Estamos num momento em que a lógica pura do sistema está prevalecendo. A política mundial é dar todo espaço para os mercados, e que nós aguentemos as consequências.”
Já a professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP Rosane Borges vai ponderar sobre as consequências da escravidão, 130 anos após a Lei Áurea, em mesa que acontece no dia 21, às 17 horas.
De acordo com Rosane, o enfoque de sua fala será pensar uma abolição que nunca foi concluída. “A exclusão das pessoas negras foi algo sistemático e que vem sustentando a discriminação racial e o racismo que cimentam as desigualdades raciais no Brasil”, destaca a professora. “O Atlas da Violência 2018 apontou que temos dois Brasis: um para negros e outro para brancos. Para os jovens negros, os índices de mortalidade só aumentaram, ao passo que, para os brancos, diminuíram ao longo de dez anos, de 2006 a 2016. Com as mulheres negras a situação não é muito diferente. Somos alvo da violência obstétrica, permanecemos ganhando menos. Esse fosso, de fundamento racial, é resultado do nosso passado histórico, que não pensou a efetiva inclusão do negro no pós-abolição.”
A programação ainda abre espaço para discussões sobre a guerra da Síria e o panorama político do Oriente Médio, as perspectivas cubanas 60 anos após a revolução e o legado de Maio de 68. A Constituição brasileira, que completa 30 anos em 2018, também é tema de análise.
Durante os quatro dias de evento, acontece ainda um curso sobre teorias revolucionárias, que abordará as ideias de Karl Marx, Lenin, Mikhail Bakunin e Rosa Luxemburgo. Cada pensador é tema de um encontro, que acontece sempre às 14 horas, ministrado por um convidado diferente.
O 4º Salão do Livro Político acontece de 18 a 21 de junho no Tucarena (Rua Bartira, 1.024, Perdizes, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas no site do evento.