Professor da USP reflete sobre política e ambiente em novo álbum

Docente da Escola Politécnica, Paulo Pereira lança “Quixote”, com 14 composições nos gêneros MPB, jazz e valsa

 22/03/2023 - Publicado há 1 ano
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Capa do disco Quixote, de Paulo Pereira, produzido por Swami Jr. – Fotomontagem de Jornal da USP com fotos de arquivo pessoal e Pixabay

 

Com lançamento previsto para abril, Quixote é o novo álbum autoral do músico e professor aposentado da Escola Politécnica da USP Paulo Sergio Pereira da Silva. O disco conta com 14 faixas musicais, sendo sete canções do gênero MPB e sete trilhas instrumentais, com elementos de jazz e valsa. Cada uma possui a sua própria particularidade, passando por temas como política, ambiente e nostalgia. “Minha motivação para os temas deste álbum vem da minha inquietude como ser humano. Não quer dizer que a alegria não faça parte do álbum, mas há sempre alguma inquietude presente”, declara Paulo Pereira.

As missões quixotescas, isto é, tidas como impossíveis, surgem desde o título do álbum até faixas como Xote de La Mancha. Questões sociais e políticas são retratadas em Luto, um tributo a Marielle Franco, Senzala, através das persistentes memórias de um homem escravizado, e Torpeza, que trata da tirania de um governante. Já a preocupação ambiental é tema das canções Rio Doce e Canto de Gaia

A nostálgica Teo e o Cafuné revisita a infância de Paulo a partir de lembranças suas com o seu pai. Sua esposa Jacinta é homenageada nas faixas Valsa da Caixinha de Música e Chora Crocodilo, Ria Jacaré, que relata o dia em que ela tomou a primeira dose da vacina contra a covid-19. O disco também conta com Boleia e Xapiris, Que Los Hay, Los Hay, dedicadas ao “maestro soberano” Tom Jobim e ao líder político David Kopenawa Yanomami, respectivamente. As instrumentais Bolero à Luz da Lua, 2020 e Chandonzinha completam a lista.

Quixote conta com a participação da cantora e compositora Ná Ozzetti e do instrumentista, compositor, arranjador e produtor Swami Jr. “No início eu me senti um pouco intimidado pela presença de grandes ídolos e pela distância da minha competência como instrumentista com relação às feras que tocaram no álbum”, relembra Paulo. “Depois relaxei, porque fui tão bem acolhido que esqueci que estava entre titãs.”

Também estão presentes os intérpretes Cezinha Oliveira, Elaine Morie, Os Gêmeos, Mau Sant’Anna e Pedro Iaco, sobrinho de Paulo. Entre os instrumentistas estão Adriana Holtz, Celso de Almeida, Kabé Pinheiro, Mário Manga, Maurício Freire, Naila  Gallotta, Paloma Pitaya, Sergio Reze, Teco Cardoso e Tiago Costa.

Paulo Pereira, músico e professor da USP – Foto: Reprodução/Researchgate

“A instrumentação do álbum é muito variada”, comenta Paulo. “Como eu sou flautista e saxofonista, há sempre algum sopro. Há um requinte: um violoncelo e um violino temperando algumas canções e temas instrumentais.” O piano, o baixo, a bateria, a percussão e os violões de seis e de sete cordas, muito utilizados em composições de MPB, também marcam presença nas músicas.

Sobre o processo criativo de Quixote, o professor detalha que a criação das melodias precede a definição dos temas que serão expressos nas letras. Ele conta que “a inspiração, na maioria dos casos, é proveniente de emoções mais abstratas, sem sentimentos muito racionais. A temática sempre aparece em um segundo momento da criação musical, que é o momento da elaboração mais cuidadosa da obra, de concretização, reflexão e análise”. Ele ressalta que o álbum é uma criação coletiva, visto que os outros músicos convidados possuem ampla participação nos processos de produção. “Na música popular, em geral, nem tudo está escrito. A harmonia é apenas cifrada, a bateria e a percussão raramente são escritas. A criatividade de cada músico e de cada intérprete vai aparecer de modo intenso em cada faixa.”

Flauta e saxofone

Docente da Escola Politécnica na área de Engenharia Elétrica, Paulo iniciou seus estudos musicais aos 40 anos de idade, no ano 2000, na Sim! Escola de Música, chamada Domus à época. Aprendeu a tocar flauta com o professor Paulo Bento e, após cinco anos, passou a estudar também o saxofone. O que inicialmente era um hobby se tornou parte significativa da sua vida. “Durante muitos anos eu toquei na noite, uma vez por semana, às vezes até o sol raiar. Lavava minha alma e posso dizer que talvez até tenha me ajudado a ser um pesquisador melhor”, conta.

O autor de Quixote passou a compor em 2018 e se aposentou da carreira como professor no ano seguinte, mas se manteve engajado nas atividades de docência e de pesquisa. “A aposentadoria me permitiu eliminar o enorme tempo que um docente passa em reuniões e em trabalhos burocráticos, que fazem parte da carreira acadêmica. Pude me dedicar mais à música, e isso me trouxe grande felicidade, tendo mais tempo para compor e para estudar meus instrumentos.”

O álbum Quixote, de Paulo Pereira, vai ser lançado em abril – sem dia definido – nas plataformas de streaming. No segundo semestre deste ano, haverá um show de lançamento do álbum, também ainda sem data prevista.

Ouça neste link a música Torpeza, de Paulo Pereira, na interpretação de Ná Ozzetti, uma das faixas do álbum Quixote (clique aqui).


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