Assista no link abaixo ao vídeo Espero Que Nomes Consigam Tocar!, produzido pela Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
O vídeo Espero Que Nomes Consigam Tocar! é a mais nova produção audiovisual da Orquestra de Câmara (Ocam) do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, com a participação de Chico César e Bráulio Bessa. A obra, disponibilizada no último dia 26 pelo canal no YouTube, presta homenagem às vítimas da covid-19, buscando sensibilizar a sociedade em relação ao número de vidas perdidas. O arranjo e regência são do professor Gil Jardim, maestro titular da orquestra.
A produção traz uma canção inspirada no poema Inumeráveis, de Bráulio Bessa, e performada pelo cantor Chico César, com imagens do cenário do Brasil durante a pandemia. Ao longo dos versos, a orquestra entra com o coro e com instrumentos nacionais, como triângulo, pandeiro, zabumba, xequerê e alfaia, na percussão. Segundo Jardim, o uso desses instrumentos pretende recriar o sentimento brasileiro, assim como as referências à obra de Villa-Lobos e o destaque da viola caipira.
“Nosso processo de ensino-aprendizagem nunca parou durante o período de isolamento. Ensinamos música normalmente, ainda que de forma diferente”, conta Marco Antonio da Silva Ramos, idealizador e regente do Coro de Câmara Comunicantus, ligado à ECA, que participa do vídeo. A gravação ocorreu de maneira remota, com os 45 músicos da Ocam e os membros do coro em suas casas. O regente adjunto André Bachur e o assistente de direção artística Lucas Coelho explicam que as gravações individuais de cada músico foram sincronizadas à voz de Chico César, e o áudio final, masterizado por Luiz Ribeiro.
As imagens foram recortadas de modo que sejam vistos apenas as mãos e os lábios dos artistas. “Essa foi uma opção estética importante, porque gera certo incômodo em quem está assistindo, para as pessoas entenderem que a gente está numa situação-limite”, ressalta Jardim. Sobre esse desconforto, o regente Ramos afirma que “fazer essa homenagem doeu. O texto machuca a alma da gente, tira pedaço. Estamos todos esperando o dia da volta, mas não estamos parados”.
Todas as fotos aparecem em preto e branco, exceto as vítimas, que são retratadas em cores vibrantes. Anderson Penha, diretor de arte do vídeo, explica que o objetivo dessa escolha é valorizar as vítimas em seus momentos de alegria em meio à família, invertendo o tradicional preto e branco do luto. “Essas pessoas brilharam e são os grandes destaques da produção, os músicos emprestam seu talento para dar voz a elas e deixar uma memória”, diz.
Penha comenta que outro recurso visual utilizado foi a sobreposição dos rostos de pessoas por números, criticando a forma massificada como as vítimas têm sido retratadas e a substituição de suas histórias e subjetividades por dados. Referências mais sutis também são pretendidas no vídeo, explica Jardim, ressaltando o estilo gospel do coro típico da música negra norte-americana, em solidariedade ao movimento Vidas Negras Importam.
Para Jardim, a música tem uma “vocação civilizatória”, pois é feita para ser ouvida. “A música ensina a ouvir, e se a gente ouvisse mais uns aos outros, em vez de estar ressaltando diferenças, estaríamos ressaltando semelhanças. Para tocar junto é necessário ouvir o outro”, diz o maestro.
Este é o segundo vídeo produzido pela Ocam durante o período de quarentena. O primeiro, intitulado Temos Por Quem Lutar!, também segue a temática da covid-19. Segundo Jardim, dois novos vídeos já estão em produção. O terceiro será lançado no dia 20 de novembro, em parceria com a Orquestra Mundana Refugi, e tratará do tema dos refugiados. A quarta produção será lançada no início de dezembro, com a participação da Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) e do Coral da USP (Coralusp), em homenagem ao cantor Milton Nascimento.
Assista no link acima ao vídeo Espero Que Nomes Consigam Tocar!, produzido pela Ocam.