Saguão do Museu Paulista - Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

Na USP, museus são fonte de ensino, pesquisa e extensão

Museus da Universidade de São Paulo usam coleções para produzir conhecimento e levá-lo para a população

 14/04/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 06/09/2022 as 16:41

Texto: Luiz Prado

Arte: Simone Gomes

Bastam as primeiras semanas circulando pelos corredores, salas de aula e espaços abertos da USP para que as calouras e os calouros percebam que o universo de conhecimento da Universidade vai muito além da sua própria faculdade. São peças de teatro, palestras, concertos, exibições de filmes e toda sorte de atividades culturais que fazem o saber acadêmico mais plural e também mais acessível à população em geral.

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O que acontece num museu quando você não está visitando?

Dentre esses espaços estão os museus. Talvez alguns recém-chegados já tenham visitado com seus familiares ou em passeios escolares essa constelação composta pelos museus, acervos e espaços de divulgação científica e cultural da USP. Para alguns, por outro lado, pode ser a primeira vez.

Atualmente, a Universidade reúne 45 espaços de coleções, distribuídos em sete cidades do Estado de São Paulo: Itu, Piracicaba, Ribeirão Preto, Santos, São Carlos, São Paulo e São Sebastião. São 36 milhões de peças guardadas que, antes da pandemia de covid-19, recebiam um público anual estimado em 3,5 milhões de pessoas. São lugares como o Museu de Geociências, o Museu de Anatomia Humana, o Museu Oceanográfico e o Parque Cientec.

Dentre esses espaços, quatro deles, localizados na capital, apresentam características especiais: o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), o Museu de Arte Contemporânea (MAC), o Museu Paulista (MP) e o Museu de Zoologia (MZ). Esses são os museus estatutários da USP, unidades que concentram ensino, pesquisa e extensão e gozam de um status semelhante ao das demais unidades de ensino da Universidade. Sendo todos os museus da USP importantes, estes, entretanto, são de longe os mais robustos.

Objetos integrantes do acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Todos eles estão de portas abertas para receber tanto os estudantes quanto a população em geral (após quase uma década fechado para reformas, o Museu Paulista prepara sua reabertura para setembro deste ano, no marco das comemorações do bicentenário da Independência), oferecendo exposições de seus acervos e atividades educativas ligadas às suas áreas de atuação. Mas, além disso, todos eles são centros de ensino e pesquisa que trazem oportunidades de aprendizado para os estudantes tanto da graduação quanto da pós-graduação, com a realização de pesquisas e produção de conhecimentos a partir de suas coleções.

Um pouco dos museus

Único museu estatutário localizado na Cidade Universitária, o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) surgiu em 1989, fruto da fusão de parte das coleções do Museu Paulista com os acervos do antigo MAE, do Instituto de Pré-história e do Museu de Etnografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Desde então, concentra todos os conjuntos de cultura material arqueológica e etnográfica da Universidade. São cerca de 1 milhão e meio de itens, organizados em acervos de arqueologia do Brasil, das Américas, da África, do Mediterrâneo e do Oriente próximo.

Além de oferecer ao público em geral exposições oriundas de seu acervo, o MAE conta com disciplinas optativas para os estudantes de graduação. Também possui um programa de pós-graduação em Arqueologia e participa do Programa Interunidades de Museologia, que reúne docentes dos quatro museus estatutários.

O Museu de Arte Contemporânea (MAC), por sua vez, está situado em frente ao Parque Ibirapuera, num edifício projetado por Oscar Niemeyer. Sua origem data de 1963 e se liga ao acervo do antigo Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, que contava com as coleções do casal de mecenas Yolanda Penteado e Ciccillo Matarazzo, coleções de obras adquiridas ou recebidas em doação durante a vigência do antigo MAM, e obras vindas dos prêmios das Bienais de São Paulo até 1961. Vieram desses acervos inaugurais, dentre outras, obras de Amedeo Modigliani, Pablo Picasso, Joan Miró, Alexander Calder, Wassily Kandinsky, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Emiliano Di Cavalcanti, Alfredo Volpi e Lygia Clark, além de uma expressiva coleção de arte italiana do começo do século 20. Desde então, o acervo se expandiu para dar conta também da produção de artistas contemporâneos.

Índio e a Suasssupara (1951), escultura vencedora da primeira Bienal de São Paulo, em 1951 – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Hoje, o museu conta com aproximadamente 10 mil obras, reunindo pinturas, gravuras, esculturas, fotografias, objetos e instalações. O MAC também participa de dois programas de pós-graduação interunidades da USP, em Estética e História da Arte e Museologia.

“Prestes a completar 60 anos, o MAC é uma das instituições mais sólidas e prestigiosas do Brasil, de reconhecimento internacional”, destaca sua diretora, professora Ana Magalhães. “Desde sua criação, o MAC é referência na pesquisa em história, teoria e crítica da arte e no colecionismo de novas formas de manifestação artística. Foi o primeiro museu do País a colecionar fotografia, videoarte e, mais recentemente, arte digital. Além de seu acervo artístico, o MAC tem uma biblioteca de referência em arte dos séculos 20 e 21 e um arquivo histórico com importante documentação da memória artística nacional.”

Indo para a zona sul da cidade, encontramos o Museu Paulista (MP), o mais antigo museu do Estado de São Paulo, inaugurado em 1895. Localizado em um edifício histórico no Parque da Independência, o Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga, sofreu diversos desmembramentos ao longo do século 20, fazendo com que passasse de um museu de história natural para um museu especializado em história da cultura material. Na atual configuração, três linhas de pesquisa norteiam os trabalhos da instituição: Cotidiano e Sociedade, Universo do Trabalho e História do Imaginário.

Seu acervo é composto de 380 mil documentos textuais, 72 mil itens iconográficos e 30 mil objetos. Apesar de não possuir um programa de pós-graduação exclusivo, o MP também integra o Programa de Museologia e seus docentes atuam em programas de pós na FFLCH, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e na Escola Politécnica (EP), além de ministrarem optativas para a graduação. O MP também possui o Museu Republicano de Itu, situado no interior do Estado.

“Mesmo com o fechamento à visitação pública nos últimos anos, o Museu Paulista sempre contou com a participação de alunos de graduação e pós-graduação nos projetos desenvolvidos pelas suas equipes e, com isso, tem complementado a formação de alunos de diversas áreas de conhecimento da USP”, comenta a diretora do museu, professora Rosaria Ono. “Agora, com a sua reabertura, em setembro deste ano, o Museu Paulista convida todos os alunos a conhecer parte do seu acervo histórico, assim como as pesquisas desenvolvidas e o conhecimento gerado, por meio de suas exposições.”

O professor Carlos José Einicker Lamas na coleção de Diptera (moscas) do Museu de Zoologia – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Próximo ao Museu Paulista, também no bairro do Ipiranga, está o Museu de Zoologia (MZ), inaugurado em 1941 e integrado totalmente à USP em 1969. Possui um acervo de 11 milhões de exemplares, com algumas das maiores coleções do mundo, como a de moluscos, com 1 milhão de espécimes, o que a torna a maior da América Latina. O MZ possui também o maior acervo do planeta de répteis e anfíbios sul-americanos, com 120 mil répteis e 140 mil anfíbios. O museu guarda ainda o maior e mais completo acervo mundial de aves brasileiras, com 105 mil exemplares, 20 mil amostras de tecido, 3,5 mil esqueletos, 2 mil ninhos e 3 mil ovos.

Desde 2011, o MZ mantém um programa de pós-graduação em Sistemática, Taxonomia Animal e Biodiversidade, além de integrar a pós-graduação interunidades em Museologia.


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