Projeto Escola Sem Partido, programa Minha Casa, Minha Vida, campanha eleitoral de Jair Bolsonaro e criminalidade nas letras de funk. Esses são alguns dos temas tratados no livro Comunicação, Políticas Públicas e Discursos em Conflito.
Lançado em maio passado, o livro foi produzido pelo grupo de pesquisa Comunicação Pública e Comunicação Política (Compol) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Com 14 capítulos, reúne artigos que analisam a comunicação pública aplicada em políticas públicas de diferentes áreas da sociedade: saúde, gênero, educação, ciência, segurança, inclusão, migração, moradia e transporte.
Os artigos foram escritos por pesquisadores do Compol e professores convidados. Além de abordar questões brasileiras, o livro oferece espaço para comparações com a realidade de outros países da América Latina. “A ideia era diversificar as contribuições e conteúdo”, afirma a professora Heloiza Matos, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA, coordenadora do Compol e uma das organizadoras de Comunicação, Políticas Públicas e Discursos em Conflito. A co-organizadora do livro é a professora Patrícia Gil, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Política, educação e música
Assinado pelo filósofo Paulo Ghiraldelli Jr., o primeiro artigo do livro trata da campanha eleitoral que levou Jair Bolsonaro ao cargo de presidente do Brasil. Nele, o autor se preocupa em analisar os motivos de Bolsonaro ter ganho as eleições e conquistado grande parte dos eleitores.
Em outro artigo, o tema principal é educação. Nele, as autoras – Patrícia Gil, Maria José Oliveira e Maria Cristina Gorgueira – destacam que o projeto Escola Sem Partido ganhou grande visibilidade nos últimos anos, mas poucos sabem que a iniciativa foi criada em 2004. No artigo, as autoras destrincham a trajetória dessa política pública e como ela ganhou força com a ascensão da direita conservadora.
Gean Gonçalves e Nelson Neto, em outro texto publicado no livro, se debruçam sobre a situação feminina no Brasil e na América Latina, a partir da perspectiva da disputa comunicativa de gênero.
As letras de funk podem dizer muito sobre a sociedade. É o que afirma a pesquisadora Luciana Moretti Fernández, num artigo em que explora a construção de um discurso nas músicas desse gênero, que falam tanto do baile funk quanto da violência. O artigo analisa uma possível relação entre o mundo representado nas letras e as políticas públicas de segurança, que afetam esses indivíduos.
Trilogia
Comunicação, Políticas Públicas e Discursos em Conflito é o último livro de uma trilogia, formada também por Comunicação Pública e Comunicação Política e Pesquisas em Comunicação Pública e Política. “Seu foco é pensar a comunicação pública a partir de políticas públicas conduzidas e executadas”, explica a professora Heloiza sobre a obra recém-lançada. O objetivo é adotar uma visão pragmática e aplicar o conhecimento teórico e metodológico desenvolvido nos dois livros anteriores.
Uma das questões essenciais, trabalhada nas três obras, é a diferença entre comunicação pública e comunicação governamental.
A comunicação governamental consiste em atividades comunicacionais do Estado, que apenas informam a sociedade, como uma prestação de contas. Já a comunicação pública permite que seja dada voz à população, para reivindicar suas demandas. “A comunicação pública só se faz presente quando há esse espaço para diálogo entre Estado e sociedade”, afirma Heloiza.
O término da trilogia significa o encerramento de um ciclo. Segundo Heloiza Matos, o Compol deve se dedicar agora a analisar a onda conservadora que se expande pelo mundo e como esse discurso voltou ao imaginário da população.
O livro Comunicação, Políticas Públicas e Discursos em Conflito, de Heloiza Matos e Patrícia Gil (organizadoras), produzido pelo grupo de pesquisa Comunicação Pública e Comunicação Política (Compol) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, está disponível gratuitamente e na íntegra no Portal de Livros Abertos da USP.
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