Josefo pode ter sido uma fonte de informações para os autores dos primeiros textos cristãos, de acordo com a professora Helen Bond, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, autora do artigo Josefo e o Novo Testamento. Entre as “várias conexões” que se podem estabelecer entre o historiador judeu e os escritores cristãos, segundo a professora, estão as semelhanças verificadas entre as respectivas obras. Por exemplo, o Evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos incluem referências ao censo de Quirino, uma descrição da morte de Agripa I, rei da Judeia de 41 a 44 antes de Cristo, e uma nota sobre a fome durante o governo do imperador Cláudio que surgem de forma parecida também em Guerra Judaica e em Antiguidades Judaicas.
Cada uma à sua maneira, as narrativas também são semelhantes, acrescenta Helen: tanto Lucas como Josefo procuram destacar a posição do seu próprio grupo, enfatizando sua antiguidade e virtudes, destacam sua história harmônica, sugerem que os problemas vieram de fora e mostram que nenhum dos grupos é uma ameaça à paz e à estabilidade romanas. “Vários estudiosos propuseram uma conexão entre os dois trabalhos”, informa a professora. “Mais comumente, defende-se que Lucas leu (ou ouviu uma apresentação de) parte ou todo o texto de Antiguidades Judaicas, de Josefo.”
Outros artigos publicados em Flávio Josefo – Um Compêndio abordam temas como a arqueologia da Galileia, os asmoneus, Herodes o Grande, seitas judaicas e literatura rabínica, sempre em relação com a obra do historiador. A história da transmissão e recepção dessa obra também é analisada em artigos do livro, entre eles As Traduções Latinas Antigas de Josefo, Josefo e a Literatura Patrística, A Versão Eslava de Guerra Judaica de Josefo e Josefo na Itália Renascentista.
Flávio Josefo – Um Compêndio, de Honora Howell Chapman e Zuleika Rodgers (organizadoras), tradução de Ivan Esperança Rocha, Editora da USP (Edusp), 630 páginas, R$ 170,00.