Exposição relembra a “Batalha da Maria Antonia”

Conflito entre estudantes da USP e do Mackenzie é tema de mostra no Centro Universitário Maria Antonia

 04/08/2017 - Publicado há 7 anos
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Fachada do Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo, atualmente – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

No dia 3 de outubro de 1968, alunos da então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP entraram em conflito com estudantes da Universidade Mackenzie. Na época, ambas as instituições eram vizinhas, localizadas na Rua Maria Antonia, na Vila Buarque, região central de São Paulo. Motivado por questões políticas, o embate — que ficou conhecido como “Batalha da Maria Antonia” — acabou com um estudante secundarista morto. Além disso, o edifício pertencente à USP foi incendiado e destruído.

Um dos berços da Universidade, o complexo Maria Antonia abrigava os cursos de Filosofia, Letras, Geografia, História, Matemática e Economia. Muitos uspianos eram ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE). Do outro lado da rua, o Mackenzie contava com universitários integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). A proximidade das células em oposição, somada à tensão da época — em plena ditadura militar —, resultou numa batalha campal.

Quase cinco décadas após o conflito, o Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma) da USP, instalado nos históricos edifícios que abrigavam a FFCL, inaugura, nesta quarta-feira, dia 9, às 10 horas, a exposição Re Vou Ver, que traz seu acervo histórico e documental sobre a batalha. Com fotografias, documentos, relatos e vídeos sobre aquele momento histórico, a mostra — que ficará em cartaz até 25 de janeiro de 2018 — faz parte de um projeto que busca preservar a memória institucional do edifício, hoje usado como espaço cultural da Universidade.

Barricada em frente ao prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP, em outubro de 1968 – Foto: Reprodução

“A exposição é uma reedição da mostra 1968 Vou Ver, apresentada em 2008, aqui mesmo no Maria Antonia”, comenta o professor José Nicolau Gregorin Filho, vice-diretor do Ceuma. “Com a professora Myrna, nossa diretora, reviramos o acervo fotográfico e documental buscando outros elementos daquela data para esta exibição. O objetivo é construir uma nova abordagem.”

Em meio ao material exibido, encontram-se registros inéditos sobre a “Batalha da Maria Antonia”, como fotografias tiradas por estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), então localizada a pouco mais de 100 metros do local dos conflitos, alunos do curso de Filosofia e profissionais da mídia. Há também recortes de jornais, imagens ampliadas em processos analógicos e documentações pessoais.

Fachada do prédio da FFCL após dez horas de confronto, em 1968: o edifício foi depredado e incendiado com coquetéis molotov – Foto: Folhapress

Na exposição, os relatos dos presentes estão dispostos na forma de textos. Dentre eles, destaca-se o de Hiroto Yoshioka — fotógrafo responsável por registrar “as escaramuças da Maria Antonia”. Portando uma câmera Nikon e uma teleobjetiva 135 mm, Yoshioka, enquanto fotografava, não tinha a dimensão do quão importante seriam essas imagens para a história da Universidade.

As fotografias de Yoshioka permaneceram inéditas até 1985, quando uma delas foi exibida na comemoração de 50 anos da Universidade. Após o evento, as fotos só vieram a público durante a exposição comemorativa dos 40 anos da “Batalha da Maria Antonia”. Em 2017, a Re Vou Ver traz à sociedade uma oportunidade de observar tais registros e ler o texto criado pelo próprio fotógrafo — um relato detalhado acerca do conflito político-estudantil.

Estudantes em confronto: esquerda e direita, uma reprodução em miniatura da Guerra Fria – Foto: Acervo UH/Folhapress

Durante a exposição, no saguão de entrada do Ceuma, um televisor vai exibir o documentário A Batalha da Maria Antonia (1976), do diretor Renato Carvalho Tapajós. Com uma abordagem histórica, o filme traz imagens e repercussões daquele que, na visão de estudiosos, passou de um mero conflito estudantil para a reprodução em miniatura da Guerra Fria — um confronto entre esquerda e direita, situado nas ruas centrais da capital paulista.

“Quando entramos na diretoria, esse acervo nos chamou bastante a atenção. Ano que vem, a ‘Batalha’ completa 50 anos. Assim, tínhamos data e queríamos começar a criar um aceno sobre a memória deste edifício. O foco é o complexo, mas os registros carregam a primeira abordagem desse momento histórico importantíssimo”, comenta Myrna de Arruda Nascimento, diretora do Ceuma. “O que temos em mãos é uma gama de imagens, textos de participantes, notícias de jornal e uma pequena ambientação — no estilo gabinete, com documentos impressos para serem manipulados durante o evento. A ideia é levar a exposição até o próximo ano, justamente pelo caráter celebrativo da data”, conclui.

A exposição Re Vou Ver acontece entre os dias 9 de agosto e 25 de janeiro, de terça a domingo, das 10h às 18h, no Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma) da USP (Rua Maria Antonia, 294, 1º andar, Vila Buarque, São Paulo). A exibição do documentário ocorre de terça a sexta-feira, às 10h e às 15h. Entrada grátis. Para mais informações, acesse o site do Ceuma ou ligue para (11) 3123 5200.


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