Seleção Natural na América

Uma variação em genes que sintetizam proteínas envolvidas na digestão de gorduras é mais frequente em povos nativos da América do que nos outros Continentes. Os indivíduos com essa mutação genética tiveram vantagem adaptativa, configurando uma assinatura genética, espalhada entre todos os grupos nativos americanos estudados.

 18/04/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 30/03/2020 as 18:01
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Uma variação em genes que sintetizam proteínas envolvidas na digestão de gorduras é mais frequente em povos nativos da América do que nos outros Continentes. Tábita Hünemeier, principal autora do artigo que descreve a descoberta e professora do Instituto de Biociências da USP, conta que começou analisando 700 mil mutações em genes de 53 populações indígenas em toda a América, além de Siberianos. “Estamos falando de uma frequência de 93% aqui e 30% na África”, comenta.

Em 2015, outro grupo de pesquisadores identificou forte presença dessa mutação entre os Inuítes, povo nativo da Groenlândia. Mas o grupo de Tábita também analisou o DNA fóssil de um paleoesquimó, e não encontrou a mutação. “Para uma mutação ser selecionada num continente inteiro, ela tem que ter acontecido muito antes da entrada no continente”, explica a pesquisadora.

A conclusão é a de que os indivíduos com essa mutação genética para consumo de gordura tiveram uma vantagem em relação aos demais. E que essa vantagem adaptativa é uma espécie de assinatura genética, espalhada entre todos os grupos nativos americanos estudados. Por isso, é possível fazer hipóteses sobre como se deu o povoamento da América e como o traço genético foi sendo selecionado e transmitido desde então.

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Uma ponte de terra ligou a Sibéria ao Alasca há 25 mil anos. Ali, por alguns milhares de anos, viveu o povo de que descendem os nativos americanos. Foi lá também que apareceu uma característica genética presente até hoje nos índios do nosso continente. Tábita Hunemeier, do Instituto de Biociências, descobriu que genes são esses e como operou a seleção natural deles. No vídeo, ela conta uma parte da história da ocupação humana da América e que genes são esses que permitiram a sobrevivência na Beríngia.

Hoje, a presença da mutação entre americanos não é mais uma vantagem. No entanto, foi essa adaptação que garantiu sua sobrevivência e distribuição pela América, o último continente a ser povoado pelo Homo sapiens, há cerca de 25 mil anos.

Nesta entrevista, a pesquisadora detalha que genes são esses e de que maneira eles tornaram os primeiros americanos mais altos, mais robustos e mais aptos. Tábita também conta o que a ciência já sabe e o que não sabe sobre o caminho percorrido pela nossa espécie para chegar até aqui.

Apesar da dificuldade de acesso aos dados genômicos dos povos nativos, a questão da origem dos primeiros humanos a entrarem na América ainda é um mistério a ser decifrado. E esse estudo da USP mostra, pela primeira vez, uma marca genética selecionada no continente inteiro.

Desde o doutorado, Tábita trabalha na análise da diversidade biológica na América. O próximo passo de sua pesquisa é estudar a prevalência da ancestralidade indígena na população brasileira.

Produção: Núcleo de Divulgação Científica
Entrevista a Tabita Said. Edição: Isabella Yoshimura, Alan Petrillo e Vitor Brandão.


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