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Refogado mediterrâneo altera metabolismo e restringe ganho de peso em ratos
Os animais foram submetidos à dieta com um refogado de tomate, azeite extravirgem, cebola e alho, comum na culinária da região mediterrânea
As dietas mediterrâneas, de regiões que englobam o Sul da Espanha, a França, a Itália e Grécia, têm sido muito estudadas quanto aos seus impactos na saúde. Quando em associação com outros hábitos, são reconhecidas como aliadas no controle da obesidade e doenças relacionadas. Parte da culinária local, o sofrito é um refogado de tomate preparado com azeite de oliva extravirgem, cebola e alho. Ao ser ofertado a ratos em experimento científico, o preparo foi capaz de alterar o metabolismo dos animais, restringindo o ganho de peso. Segundo a pesquisa, o efeito pode estar associado a um composto identificado como butanodiol, encontrado no fígado dos camundongos.
Publicado na revista Antioxidants, o estudo foi conduzido por pesquisadores do Centro de Pesquisas em Alimentos (Food Research Center — FoRC) da USP, sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP; da Universidade Internacional da Catalunha, da Universidade de Barcelona e do Instituto de Saúde Carlos III, na Espanha; e da Fundação Edmund Mach, da Universidade de Parma, na Itália.
O trabalho complementa os resultados de um estudo anterior, que apontou que ratos com propensão à obesidade que receberam a suplementação do refogado na dieta, apesar de terem consumido mais ração e energia, obtiveram o mesmo ganho de peso dos que não receberam. No estudo atual foram identificados compostos relativos ao consumo de sofrito e possíveis alterações nos órgãos que explicam esse efeito.
O estudo
Para obtenção desses resultados foram realizadas múltiplas abordagens de pesquisa. Os cientistas avaliaram quatro grupos de animais, sendo que metade era de animais com o peso considerado ideal e a outra, com propensão à obesidade. Por um período de oito semanas, um grupo com propensão à obesidade e outro com peso normal receberam uma dieta com suplementação de sofrito. Outros grupos receberam a mesma dieta, mas sem o refogado.
“Da quantidade total da ração, 2% eram de sofrito, porcentual que correspondia à ingestão média de tomate pela população espanhola”, explica José Fernando de Alvarenga, primeiro autor do artigo, cujo estudo é fruto de sua tese na Universidade de Barcelona sob a orientação da professora Rosa Lamuela-Raventos.
Por meio da metabolômica, uma técnica que analisa diversos compostos presentes em órgãos e tecidos que resultam de reações químicas que acontecem no organismo, e de ferramentas de estatística, foi identificado no fígado dos animais o butanodiol. “Nossa hipótese para explicar os efeitos do sofrito é a presença desse composto, detectado somente nos animais que ingeriram o refogado, que é descrito na literatura como um precursor dos corpos cetônicos, que são substâncias que ativam o metabolismo energético”, afirma Alvarenga.
Foi realizada também uma investigação lipidômica (o mesmo tipo de análise direcionada somente aos lipídios) para observar as mudanças no tecido adiposo, mas não foram encontradas alterações substanciais. “Observamos que o sofrito favorece alterações que levam à oxidação de lipídios, mas não encontramos mudanças significativas de composição”, diz Alvarenga.
Observou-se que os animais que comeram o refogado tinham mais diglicerídeos (reservas de energia formadas por duas moléculas de gordura), enquanto os animais que não receberam a suplementação tinham mais triglicerídeos (reservas de energia formadas por três moléculas de gordura). “Isso pode indicar uma mudança metabólica que levou à quebra dessas moléculas, o que também pode favorecer o não ganho de peso”, acrescenta.
Apesar de ser um importante aliado de uma alimentação saudável, Alvarenga reforça que o sofrito não é uma fórmula mágica para o emagrecimento.
O trabalho finaliza a trilogia de pesquisas avaliando o efeito do sofrito em ratos. Na primeira delas foi constatado que o refogado melhora a contração das artérias dos animais obesos, propiciando melhor saúde cardiovascular aos animais.
Dieta mediterrânea: modelo no mundo
Segundo Alvarenga, a dieta mediterrânea é considerada uma das mais saudáveis do mundo, o que vem sendo associado à baixa incidência de doenças cardiovasculares e diabete na região, porém isso deve estar aliado também a outros componentes do estilo de vida da população. Ela é considerada saudável em função do alto consumo de azeite de oliva extravirgem, frutos secos, oleaginosas, como castanhas e nozes, e peixes, além da forma de preparo dos alimentos (são consumidos principalmente em refogados e sopas).
“Os mesmos ingredientes da dieta mediterrânea, quando adotados por outras populações, como a estadunidense, por exemplo, não trazem tantos benefícios devido à forma com que são preparados. Quando cozinhamos, alteramos o perfil químico dos alimentos, o que pode trazer características interessantes com as técnicas culinárias no mediterrâneo”, destaca.
No caso do sofrito, não há grandes diferenças com os refogados que são consumidos no Brasil. “A principal diferença está no uso do azeite de oliva extravirgem, já que costumamos utilizar o óleo de soja aqui.” E esse é um fator importante porque o azeite extravirgem tem propriedades antioxidantes que desaceleram a degradação de nutrientes dos alimentos durante o preparo dos alimentos, como mostrou em um estudo anterior o autor.
Atualmente, Alvarenga atua como pesquisador colaborador da Universidade de Parma, na Itália. Sua linha de pesquisa atual busca descrever os efeitos benéficos à saúde de compostos bioativos, como o limoneno (líquido incolor, volátil e oleoso encontrado nas cascas das frutas cítricas, sobretudo de limões e laranjas), que também pode reduzir o ganho de peso.
*Da Assessoria do FoRC, com edição de Luiza Caires
Mais informações: e-mail zehfernando@gmail.com, com José Fernando de Alvarenga
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