Segundo a professora Rita Cruz, coordenadora da pesquisa, a primeira etapa do trabalho foi realizada por alunos da disciplina Geografia do Turismo, da FFLCH. “O estudo abrangeu três aspectos principais: brasileiros retidos no exterior; cruzeiros marítimos retidos pelo mundo e no Brasil, considerando casos de contágio pela doença e medidas tomadas por organismos nacionais com vistas à resolução de problemas que atingiram e atingem o setor do turismo, assim como perspectivas para o futuro”, relata.
A principal fonte de dados da pesquisa foram os sites oficiais da Organização Mundial do Turismo, Ministério das Relações Exteriores e Embratur, além de sites de empresas, principalmente relacionadas aos cruzeiros. “Especificamente em relação aos brasileiros retidos no exterior, foi realizada uma busca ativa em redes sociais”, explica Rita. “A partir dessa busca, chegou-se a pessoas que concederam entrevistas por escrito ou gravadas. Além de um editorial escrito pelos alunos, um documentário em vídeo sobre o tema está em preparação.”
A segunda etapa está em andamento e envolve pesquisadores brasileiros de diferentes Instituições de Ensino Superior (IES) da Amazônia, Nordeste e Sudeste, além de pesquisadores brasileiros residentes no exterior (Portugal e França) e pesquisadores estrangeiros de Portugal, Argentina e Moçambique. “O objetivo será avaliar quantitativa e qualitativamente os impactos da pandemia da covid-19 sobre os lugares (regiões e localidades no Brasil e no exterior), com vistas a uma análise comparativa que possa contribuir com a formulação de políticas públicas para o setor em diferentes escalas”, planeja Rita.
Turistas retidos
A pesquisa mapeou mais de 60 navios de cruzeiro retidos pelo mundo e contabilizou casos de contaminação por covid-19. “Os navios tornaram-se focos de contágio e enfrentaram sérias dificuldades, sendo rejeitados por diferentes países, tendo que alterar seus percursos originais e, consequentemente, mantendo em seu interior milhares de pessoas cujo risco de contágio foi indiscutivelmente aumentado”, destaca a professora. “Além disso, as tripulações desses navios, em grande parte jovens oriundos de países em desenvolvimento, foram duramente impactadas, dadas as condições nem sempre adequadas para o confinamento por longo tempo nas embarcações.”
Além de construir uma visão geral sobre a distribuição geográfica de brasileiros retidos no exterior, o estudo apontou as dificuldades enfrentadas em relação ao retorno ao Brasil. “Nos voos internacionais, foi verificado o descaso de diversas companhias aéreas com passageiros, o que inclui, entre outros problemas, ausência completa de informações, venda de passagens e cancelamento de voos na sequência”, ressalta Rita. “É importante destacar, também, que trabalhadores dessas empresas, de pilotos a comissários de bordo, muitos contratados como pessoa jurídica (PJ), foram dispensados sem remuneração.”
De acordo com a professora, o turismo no Brasil assim como em todo o mundo está “congelado”, mas o País não se ressente do problema da mesma forma que outras nações, pois, de acordo com estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o setor participa com cerca de 3,7% da composição do PIB nacional. “No entanto, quando são analisadas as escalas regional e local, há localidades com alta taxa de dependência do turismo, seja em relação ao número de estabelecimentos comerciais ou de empregos no setor, por exemplo”, aponta. “Este é o caso de municípios litorâneos paulistas e diversas outras localidades e regiões turísticas distribuídas pelo território nacional.”
O estudo mapeou as estratégias mobilizadas pelo Brasil e por outras países em busca da minimização dos efeitos deletérios da crise sanitária. “O turismo está vetado por autoridades municipais em todo o País por razões óbvias, ou seja, evitar a circulação geográfica do vírus. Entretanto, há uma campanha internacional, encampada pelo Ministério do Turismo brasileiro, que pede aos viajantes para não cancelarem suas viagens e sim reprogramá-las pra o futuro próximo”, aponta Rita. “Operadoras de viagem e companhias aéreas têm buscado soluções para a crise com base nessa perspectiva, tal como indica o acordo recente firmado entre Latam e Azul.”
“Meios de hospedagem buscam freneticamente adequar-se às novas demandas por segurança sanitária em suas instalações, visando a uma retomada, mesmo que lenta, das atividades a partir do segundo semestre deste ano”, conclui a professora. A primeira fase da pesquisa envolveu estudantes da disciplina de Geografia do Turismo, ministrada por Rita no primeiro semestre deste ano. A segunda fase, coordenada pela professora, com a colaboração da pós-doutoranda Simone Affonso da Silva, do Departamento de Geografia da FFLCH, envolve 60 pesquisadores de diferentes instituições de ensino superior brasileiras e estrangeiras. Informações gerais sobre o projeto estão disponíveis neste site.
Mais informações: e-mail ritacruz@usp.br, com a professora Rita Cruz